Pelicanos de Balandrau.

"Que cada um se esforce individualmente e de acordo com as possibilidades de sua inteligência; mas que cuide de não censurar os demais, seja porque ele não os entende ou porque eles não o entendem, já que sempre ocorre um dos casos, e freqüentemente ambos de uma só vez. Toda opinião sincera merece por tal razão ser respeitada, ainda que possa haver discordância em seus méritos. A verdadeira liberdade de pensamento mede-se pela liberdade que cada indivíduo sabe conceder aos demais" PEDRO DONIDA

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Venerável Mestre.'.



Do livro
"Manual do Mestre Instalado"
(leitura restrita a Mestres Instalados, com exceção das partes gerais).
José Castellani



VENERÁVEL MESTRE

Origem do título
O título de Venerável Mestre, dado ao presidente de uma Loja maçônica, tem a sua origem mais remota nos meados do século XVII, quando já começara a lenta, mas progressiva, transformação da Franco-maçonaria de ofício, ou operativa, em Franco-maçonaria dos aceitos, ou especulativa (1). Nessa época, porém, nem existia o grau de Mestre Maçom, que só seria introduzido no século XVIII, a partir de 1724, e efetivado em 1738, e o presidente da Loja era escolhido entre os mais antigos e experientes Companheiros --- que era um mestre-de-obras --- ou era o proprietário mesmo, o qual, como dono da obra, era vitalício na direção dos trabalhos dos obreiros.

Derivado da palavra inglesa worship, que significa culto, adoração, reverência --- como forma de tratamento --- quando usada como substantivo, e venerar, adorar, idolatrar, quando usada como verbo transitivo, tem-se o vocábulo worshipful, que significa adorador, reverente, venerável, como forma de tratamento. Dessa maneira, o presidente da Loja passou a ter o título de Worshipful Master, que significa Venerável Mestre e que seria adotado por todos os círculos maçônicos, embora o termo Venerável, de início, fosse aplicado apenas às organizações de artesãos.

Adotando-se a cerimônia de Instalação, como faz a Maçonaria inglesa, é só depois de passar por ela que o Venerável Mestre eleito pode se considerar empossado --- instalação é sinônimo de posse --- e empossar os membros de sua administração, entrando na plenitude de seus direitos exclusivos, entre os quais se inclui o de sagrar (2) os candidatos à iniciação, à elevação, ou à exaltação. Tão rígido é tal dispositivo, que, em uma sessão à qual não esteja presente o Venerável Mestre, sendo, ela, portanto, dirigida pelo 1º Vigilante, que não seja um Mestre Instalado, ele deverá, no momento de sagrar o candidato, solicitar, a um Mestre Instalado presente, que o faça, sem o que a cerimônia não poderá ter validade.

Origens das atribuições litúrgicas

A origem mais remota dessa prática está na Cavalaria medieval, cujos integrantes, os cavaleiros, só podiam ser sagrados por um rei, por um príncipe, ou por um alto dignitário eclesiástico. Estes, para a sagração, colocavam a lâmina da espada sobre os ombros do candidato, alternadamente (e terminavam, em alguns casos, com a acolada, que era uma pancada no pescoço do candidato).

Apesar de alguns autores não admitirem influência da Cavalaria, das Ordens Militares e dos Cruzados sobre a Maçonaria, existe, na realidade, uma similaridade muito grande entre as práticas maçônicas da instalação e as práticas dessas instituições, pois é claro que, embora não se possa, de maneira alguma, ligar as origens da Maçonaria aos Cruzados, ou à Cavalaria, influências desses agrupamentos podem existir em qualquer ramo do conhecimento humano. Na época do apogeu da Cavalaria, no decorrer do século XI, ela possuía hierarquia, graus e brasões. As Cruzadas acavariam contribuindo para o incremento do prestígio dos cavaleiros, dando, à sua atividade, um forte cunho religioso, que se exteriorizava na promessa de defender a Igreja, defender a cristandade e combater os infiéis, além do compromisso de fidelidade ao senhor feudal, de proteção aos fracos, oprimidos, mulheres e órfãos, de respeito à hierarquia e à disciplina e de combate à calúnia, à mentira e aos vícios.

A educação do cavaleiro começava na infância e, depois de cuidadosamente preparado,ele prestava o serviço militar, entre os 15 e os 21 anos de idade, primeiramente como pajem, atendendo ao senhor feudal em todos os serviços domésticos do castelo, e, posteriormente, como escudeiro, acompanhando ao seu senhor nas batalhas e lutando ao seu lado. Aos 21 anos, então, o escudeiro era armado cavaleiro, numa cerimônia à qual a Igreja imprimiu um profundo caráter religioso. Para esta cerimônia, inicialmente, o candidato ficava encerrado, durante toda a noite, na capela do castelo, orando e velando as armas; ao romper da aurora, ele fazia a confissão, comungava e participava da missa, onde o sermão principal destacava os deveres que ele assumiria, como cavaleiro. Passava-se, em seguida, à cerimônia, realizada no pátio principal do castelo, ocasião em que o cavaleiro era sagrado e armado, tendo, como padrinho, o senhor com o qual aprendera a arte militar.

A ação da Igreja nessa cerimônia, na época de apogeu da Cavalaria (séculos XI e XII), ainda é mostrada em outras práticas: o sacerdote benzia a espada do cavaleiro e comunicava que ela sempre deveria ser usada para servir à Igreja e defender os fracos, os oprimidos, as viúvas, os órfãos e, de maneira geral, todos os servidores de Deus, contra "a crueldade dos pagãos". O cavaleiro era purificado, através de um banho ritualístico, e recebia uma camisa de linho branco, como símbolo da pureza, e uma túnica vermelha, como símbolo do sangue, que deveria ser vertido a serviço de Deus.

Tais costumes mostram uma certa influência sobre muitos costumes maçônicos --- não se pode esquecer que a Franco-maçonaria floresceu à sombra da Igreja --- como a permanência na Câmara de Reflexão, a sua purificação, a cor branca do avental e das luvas, a espada, a sagração, as preleções, o juramento, o voto de defesa dos fracos e oprimidos.

Notas

1. Essa progressiva transformação iniciou-se no século XVII, quando, com a decadência do estilo gótico --- e a concomitante ascensão do renascentista --- as organizações de oficio começaram também a entrar em decadência. E, para tentar sobreviver, resolveram aceitar, em suas Lojas, homens não ligados à arte de construir e que, por isso, foram chamados de Maçons Aceitos. O processo de aceitação desenvolveu-se durante todo o século XVII, a ponto de, no final dele, o número de aceitos sobrepujar, largamente, o de operativos, o que propiciaria, em 1717, a criação da primeira Obediência maçônica da História, a Premier Grand Lodge, em Londres.

2. Sagrar, aí, tem o sentido de conferir a dignidade do grau e não o de santificar, ou tornar sagrado, como muitos pensam. É o mesmo com a sagração de templo: a cerimônia confere, ao local, a dignidade de templo maçônico.


José Castellani
* * *
Do livro "Manual do Mestre Instalado"

1 Comentários:

Blogger Marcelo F. Antunes disse...

O Cargo de V.'.M.'., cuja instalação se dá em sessão reservada aos P.'.M.'. sempre foi camuflada por símbolos que tiveram sua razão de ser pela época de grandes perseguições que a maçonaria sofreu. Entretanto, para aqueles poucos que aprenderam a filosofar (pensar = pesquisar) e a se reconectar com a Consciência Universal, puderam discernir no Trono, QUEM e o que Abrahão via e fazia quando sentado em seus 'Rins' (pivôs da articulação de suas pernas = Colunas) quando então Abrahão podia falar e ouvir o G.'.A.'.D.'.U.'., pois ao se posicionar "Entre Colunas" tal fato realmente acontecia num Templo Sagrado.
Raros M.'.M.'. sabem que Abrahão foi o Primeiro Maçon! Menos ainda, que no Templo, quando há Egrégora, o G.'.A.'.D.'.U.'. está PRESENTE!
E que os Sublimes Trabalhos em Loj.'. mimetizam a Tábua das Esmeraldas de Hermes Trimegistus.

6 de maio de 2009 às 10:56  

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