Pelicanos de Balandrau.

"Que cada um se esforce individualmente e de acordo com as possibilidades de sua inteligência; mas que cuide de não censurar os demais, seja porque ele não os entende ou porque eles não o entendem, já que sempre ocorre um dos casos, e freqüentemente ambos de uma só vez. Toda opinião sincera merece por tal razão ser respeitada, ainda que possa haver discordância em seus méritos. A verdadeira liberdade de pensamento mede-se pela liberdade que cada indivíduo sabe conceder aos demais" PEDRO DONIDA

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Rito Escocês Retificado



GRANDE PRIORADO DO BRASIL DA ORDEM DOS
CAVALEIROS BENFEITORES DA CIDADE SANTA.
(CAVALEIRO BENFEITOR DA CIDADE SANTA)


História e Origem
Os Cavaleiros Beneficentes da Santa Cidade, mais conhecidos como Chevalieurs Bienfaisants de la Cite Sainte (CBCS), surgiram após uma Convenção realizada em Wilhelmsbad em 1782, tratando-se da mais antiga Ordem ligada à Maçonaria que tenha existência contínua. Ela deriva do Rito da Estrita Observância erigido em 1754, cuja fundação é atribuída ao barão Von Hund, que propunha a teoria de que a Maçonaria se originara diretamente dos Templários Cruzados, incorporando a idéia de que a Ordem seria governada por “superiores desconhecidos”. Ela chegou a possuir muitas Províncias espalhadas pela Europa, mas lentamente, após 28 anos, a influência da Estrita Observância diminuiu e a Ordem foi finalmente reconstruída para se tornar o Rito Escocês Retificado (CBCS). Os Graus da Ordem (não trabalhados por completo por todos os Priorados) são aqueles praticados na Loja de Santo André e na Ordem do Interior, que operam sob o Grande Priorado da Helvetia. Os Graus do Rito são estruturados como se segue:
Conferidos em uma Loja de Santo André
4.   (a) Mestre Escocês
(b) Mestre Escocês de Santo André
Conferidos em uma Jurisdição do Comandante e Capítulo da Ordem Interna
5. Escudeiro Noviço
6. Cavaleiro Beneficente da Santa Cidade
Além da Suíça, existem na atualidade outros OITO Grandes Priorados no mundo, situados nos seguintes países:
Estados Unidos da América (erigido em 1934), França (1935), Inglaterra (1937),  Bélgica (1986), e ainda Portugal, Brasil, Togo e Espanha.  Na Inglaterra muito pouco se conhece do Rito, salvo que é administrado sob a égide do Grande Priorado do Templo, com número muito restrito de membros e reuniões não muito frequentes. Em consequência, vários Irmãos residentes no Reino Unido têm procurado o ingresso à Ordem no continente europeu.
Estrutura e Qualificação
Cada Grande Priorado é governado por um Mui Reverendo Grão-Prior/Grande Mestre Nacional, que são eleitos. Ele é apoiado por um Grão-Prior Adjunto, um Grande Chanceler (Grande Secretário) e um conjunto de Grandes Oficiais, enquanto os membros são denominados Reverendos Cavaleiros. O ingresso a essa Ordem é cuidadosamente controlado, estando a prerrogativa do convite nas mãos da Hierarquia; dessa forma, raramente se faz referência à Ordem nos círculos maçônicos, com exceção talvez dos próprios membros do CBCS. A qualificação é restrita aos Mestres Maçons Regulares.
Paramentos
O Grau de Mestre Escocês: O paramento no primeiro Grau de Mestre Escocês consiste de um avental branco com acabamento de seda verde, possuindo aba quadrada verde com acabamento em vermelho, contendo três rosetas vermelhas colocadas nas posições de costume. No Grau de Mestre Escocês de Santo André o candidato é também investido com um colar de seda verde e bordas em vermelho, do qual é suspenso um medalhão perfurado de bronze contendo uma coroa de folhas laureadas sobrepostas por uma coroa imperial. No seu centro existem dois triângulos entrelaçados com raios e com a divisa da letra H, possuindo adicionalmente um esquadro e compassos acima e abaixo, respectivamente, os quais são emoldurados por um nível e um prumo (perpendicular) esmaltados em vermelho. O reverso da joia também possui o padrão triangular entrelaçado, com a figura sobreposta de Santo André crucificado.
Escudeiro e Cavaleiro Beneficente: Os paramentos do primeiro dos dois Graus plenos compreendem uma túnica branca lisa e um collarette vermelho com acabamento em cadarço dourado do qual é suspensa a cruz peitoral da Ordem. Ao ser elevado à Cavalaria, ocollarette permanece, a túnica lisa é trocada por um manto branco contendo uma cruz pateada vermelha no ombro esquerdo; e o candidato é investido com uma faixa branca com bordas douradas e uma cruz bordada vermelha no centro, na qual é suspensa a cruz da Ordem.
Os Graus
O quarto Grau do Rito, que não possui qualquer ligação com a Escócia, foi conferido quando duas seções dentro de uma Loja de Santo André provavelmente se separaram de um simples Grau original de mesmo nome.
Mestre Escocês de Santo André: Esse Grau faz referência à tradição divina do Templo de Salomão e à presença permanente da Santa Shekinah. Infere-se também que, enquanto o Primeiro Templo foi deixado em ruínas, ainda permaneceu dentro dele o conhecimento sagrado do Deus de Israel.
Aqui temos o desenvolvimento da lenda de construção do Segundo Templo, exortando o verdadeiro investigador a penetrar a tumba de Hiram à procura da Palavra Perdida. Seus trabalhos são recompensados pela personalidade alegórica do Mestre Construtor sendo elevada como um véu para revelar o Cristo ressuscitado, que mostra, desse modo, uma interpretação cristã das letras que formam o nome de nosso Grão-Mestre; e também alude à vinda da Nova Jerusalém, a Sion mística.
Escudeiro Noviço: No quinto Grau, o candidato é submetido a um período de reflexão dentro de um Colégio Escocês, antes de ser juramentado no Capítulo de noviços. A lenda conta que, nos primórdios da Era Cristã, Magos Sábios e iluminados que residiam na Cidade Santa foram convertidos ao Cristianismo por São Marcos. O trabalho esotérico de iniciação exigia que sua doutrina fosse transmitida por tradição oral secreta, o que era feito e culminava nos Cavaleiros Templários, que eram reputados em serem os últimos depositários desse divino conhecimento.
Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa: No sexto e final Grau, é revelado ao Noviço, em seu enobrecimento dentro de uma “Prefeitura”, um Convento. Idêntico ao Cristianismo Antigo, no zênite da antiga civilização egípcia, equiparado a Orfeu, Pitágoras e Platão. Também lhe é explicado que a Cavalaria da Cidade Santa se manifestava em obras beneficentes que eram o caminho perfeito para Deus, e pela difusão desses trabalhos, assegurando a maior bondade para a família humana e a obtenção final da verdadeira iluminação.
Em todo o ritual está impresso as virtudes da Fé, Esperança e Caridade. Ligados as mensagens de Amor e Tolerância, Tradição Templária, em termos de herança espiritual e muito próximo da GNOSE CRISTÃ...

Wagner Veneziani Costa

 



As Origens Maçônicas de Willermoz - RITO DE WILLERMOZ:


O Rito Escocês Retificado é também conhecido como Rito de Willermoz, em alusão ao seu criador, Jean Baptiste de Willermoz (Lyon,1730- Lyon,1824), que foi iniciado na maçonaria aos 20 anos de idade em uma loja que funcionava sob os auspícios da Estrita Observância Templária.

A intenção de ter um Rito Escocês Retificado seria trazer de volta antigas influências dos Cavaleiros Templários, como um rito de cavalaria, também de um antigo rito chamado Rito de Heredom. Segundo Willermoz o Rito havia se descaracterizado com o tempo, perdendo assim sua identidade original como um Rito de Cavaleiros.

Foi relançado nas suas bases atuais, graças ao trabalho incansável de Jean-Baptiste Willermoz, que mantinha relações com maçons de toda a Europa, principalmente com os Irmãos mais qualificados de todos os ritos.

Ele passou a vida inteira reunindo todo o tipo imaginável de documentos, rituais e instruções, buscando alcançar a essência da iniciação maçônica.

O sistema maçônico que o interessava de imediato, foi o da Estrita Observância Templária, em razão das origens templários que esse sistema atribuía à Maçonaria e por sua organização em forma de ordem de cavalaria.



ORIGENS MAÇÔNICAS DE WILLERMOZ:

Jean-Baptiste Willermoz era muito estimado pelos seus discípulos, principalmente pelas maneiras cordiais, amigáveis e sedutoras. Ele tinha como profissão profana a fabricação e comércio de artigos de seda, sendo ainda um grande proprietário de imóveis na cidade de Lyon, no centro da França.

Desde jovem, conseguiu reunir em torno de si um grupo de homens devotados à causa espiritual, tais como: Louis Claude de Saint-Martin, Joseph de Maistre, Martinez de Pasqually e o famoso Conde de Saint-Germain, alguns companheiros de estudos, outros seus próprios mestres.

Claude Catherin Willermoz foi seu pai, que por tradição também se dedicava à produção de tecidos; sua irmã Claudine foi iniciada nas ordens externas e o seu irmão mais novo, o médico Pierre-Jacques Willermoz foi iniciado em todas as ordens e jogou um papel importante na afirmação de Lyon como centro maçônico importante.

Jean-Baptiste Willermoz iniciou-se na Maçonaria em 1750. Com 20 anos de idade e já em 1752 era Venerável Mestre da sua loja e um ano mais tarde fundou a loja “;A Perfeita Amizade”, que desempenhou um papel muito importante mais tarde. Em 1756 obteve a filiação da sua loja na Grande Loja da França. Em 1760, com 30 anos de idade, fundou uma segunda loja: “Os Verdadeiros Amigos”; juntamente com o Venerável da sua primeira loja: “A Amizade”;, o irmão Jacques Irenée Grandon.

Nesse mesmo ano, as três lojas AMIZADE, A PERFEITA AMIZADE, e os VERDADEIROS AMIGOS, sob a coordenação de Willermoz, fundam a GRANDE LOJA DOS MESTRES REGULARES DE LYON, que recebeu Grandon como o seu primeiro presidente. Esses maçons tinham como objetivo a volta às suas origens primitivas.

Willermoz torna-se Grão Mestre em 1761, reelegendo-se em 1762, mas desinteressou-se em seguida, devido ao aumento das tarefas administrativas. Além disso, ele estava desgostoso com a banalidade dos trabalhos maçônicos o que o induziu a fundar o Capítulo dos “;CAVALEIROS DA ÁGUIA NEGRA”, onde recrutava os melhores elementos de todas as lojas da cidade.

Willermoz ensinava no seu Capítulo que, para encontrar a pedra cúbica, que contém em si todos os dons, virtudes ou faculdades, era necessário encontrar o princípio da vida que os Adeptos chamam Alkaeter. Esse espírito tem a faculdade de purificar o ser anímico do homem, prolongando sua vida.

Ele também tem a virtude de transformar os vis metais em ouro. Esse espírito encontra-se nos três reinos da natureza e cabe ao homem encontrar a maneira de manipulá-lo. Eles ensinavam que a pedra bruta representava a matéria disforme que devemos preparar; a pedra cúbica com ponta piramidal representava a matéria desenvolvida pela tríplice ação do Sal, do Enxofre e do Mercúrio.

O portador do terceiro grau possuía duas jóias, uma era o emblema dos três reinos da natureza que entra no trabalho de preparação da Grande Obra, a outra era o Pantáculo de Salomão, de sorte que o iniciado deveria portar em si toda a ciência cabalística. Entretanto, Willermoz logo desinteressou-se do Capítulo da Águia Negra, pelas seguintes razões: primeiro porque a base de simbolismo já era do seu pleno conhecimento e havia conseguido formar Mestres capazes de continuar esse trabalho de instruir o s maçons do capítulo; segundo porque encontrou Martinez de Pasqually em 1767, quando tinha 37 anos de idade. Martinez, que como se sabe, foi o fundador da Ordem dos Cavaleiros Maçons Elus Cohens do Universo, sistema operativo, cujo ensinamento marcou profundamente o espírito de Willermoz.

A DOUTRINA DE MARTINEZ E O GRANDE TEMPLO DE LYON:

Os maçons de Lyon, embora perseverantes no seu trabalho, não possuíam, uma doutrina sintética, que lhes assegurasse o objetivo dos seus trabalhos. A doutrina exposta por Martinez encaixou como uma luva nas mãos laboriosas dos maçons ocultistas de Lyon, cujo chefe era Jean-Baptiste Willermoz.

Tal doutrina comportava a revelação de verdades primordiais, comunicadas outrora a alguns seres privilegiados, e em sua síntese, ensinava a maneira de transpor a barreira que separa o Homem da Divindade.

Martinez trazia a mensagem de uma tradição oculta, conservada alegoricamente nas Escrituras Sagradas, sob o véu dos símbolos, transmitida através dos tempos pelas Sociedades Secretas. A Maçonaria tinha perdido a chave dessa tradição, que foi reencontrada por Martinez e por ele retransmitida nos seus rituais.

A sua doutrina explicava que a história da humanidade se resumia nas conseqüências do pecado original e na subdivisão do Homem Primitivo. A Divindade emanou Adão para que fosse o guardião da prisão onde tinha colocado os anjos rebeldes. Adão, revestido de uma forma “gloriosa”; comandava toda a criação. Mas, seduzido pelos Espíritos perversos, Adão quis ter a sua própria posteridade “espiritual”;.

Entretanto, a criação de Adão não resultou senão numa forma material (Eva), que constituiu sua própria prisão futura. Essa condição o privou da comunicação com a Divindade e o expôs aos ataques dos espíritos perversos, dos quais ele era anteriormente o Mestre.
A posteridade de Seth poderá obter sua reconciliação e entrar em contacto directo com a Divindade, após ter percorrido todas as esferas superiores do mundo celeste.

Willermoz foi iniciado por Martinez em Versailles, perto de Paris, no Equinócio de Março de 1767, quando este instalou o seu Tribunal Soberano de Paris. Willermoz tinha sido apresentado por Bacon de la Chevalerie e o Mestre logo reconheceu em Willermoz um futuro adepto, um continuador da sua doutrina, motivo pelo qual não pode conter as lágrimas, sobretudo, porque via nessa iniciação a prova da sua reconciliação com a Divindade. Nesse mesmo ano, Willermoz foi recebido como membro não residente do Tribunal Soberano e a sua correspondência com o Mestre durou cinco anos.

Entretanto, durante esse período não obteve nenhuma luz, o que quase induziu Willermoz a abandonar a Ordem, apesar de Martinez lhe dizer que o desenvolvimento das qualidades espirituais, não vinha de um dia para o outro, e que somente o tempo e a perseverança na iniciação lhe poderia oferecer os resultados esperados.


Divindade, nada lhe será dado. Somente a graça da reconciliação do Pai dará a potência e o poder ao filho. A luz não é dada ao curioso, ao apressado; o Altíssimo a concede ao Homem submisso aos seus mandamentos e que pratica a sua justiça.


O Elus Cohen deveria seguir rigorosamente o ritual teúrgico e renunciar a tudo o que existe neste baixo mundo, e resignar-se a receber a graça no seu devido tempo. Esta virá, a partir de um trabalho constante, quando menos se espera. A preguiça, ou a impureza de um único membro durante os trabalhos, prejudica todo o trabalho coletivo dos grupos operativos.


Willermoz compreendeu rapidamente estas premissas e trabalhou de corpo e alma, não somente na sua regeneração pessoal como também com o objetivo de estender essa doutrina à Maçonaria, fazendo novos adeptos para a Ordem. Foi por essa razão que buscou a aliança com os maçons alemães da Estrita Observância Templária, isentos dos objetivos políticos e vingativos dos maçons Franceses.



O CONVENTO DE GAULES (LYON, 1778)

O sucesso das lojas do Rito Escocês Rectificado foi total na França, principalmente porque elas eram oriundas das tradições templárias e, sobretudo porque os seus chefes eram nobres autênticos, príncipes, duques, barões e as iniciações eram muito seletiva. Nessa mesma época, estava-se instalando o Grande Oriente da França, que fez questão de agrupar os Diretórios Escoceses sob sua égide e um tratado foi assinado nesse sentido. Esses diretórios não tinham uma direção central na França e uma união era preconizada por todos. Entretanto as desavenças em vez de diminuírem, aumentaram. O próprio Willermoz escreveu ao Príncipe Charles de Hesse, queixando-se que Weiler não conhecia nada sobre “as coisas essenciais”;.

O grande superior Ferdinando de Brunswick procurava desesperadamente a doutrina e a coesão que faltava. Os Lyoneses detinham há 11 anos o sistema de Martinez de Pasqually, doutrina que poderia interessar aos Diretórios. Willermoz e Louis Claude de Saint-Martin de maneira muito oculta, prepararam as coisas com cuidado.

Eles conseguiram iniciar Jean de Turkeim e Rodolphe de Salznan na Ordem dos “Elus Cohens” homens de grande importância no seio da Estrita Observância Templária do Diretório de Estrasburgo. E esses dois homens desempenharam um papel muito importante quando os ocultistas de Lyon apresentaram a sua proposta dos conventos que iriam realizar no futuro. Com os espíritos preparados, segundo a doutrina de Martinez, os Lyoneses convocaram o CONVENTO DE GAULES em 1778, em Lyon. As grandes figuras da Estrita Observância Templária estiveram presentes em Lyon, mas preocuparam-se essencialmente com o futuro administrativo da Maçonaria. Willermoz demonstrou, desde logo, que a preocupação deveria nortear-se sobre o verdadeiro objetivo da Maçonaria, suas diretivas de estudos que deveriam orientar-se na busca da Divindade.

No transcurso dos trabalhos, decidiram distinguir as lojas simbólicas das lojas da Ordem Interior e substituir por Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa a palavra Templário. Os rituais apresentados pelos Lyoneses foram aprovados, assim como as instruções secretas de Willermoz, tiradas do “Tratado da Reintegração dos Seres Criados”de Martinez de Pasqually. 

O objetivo primeiro da Maçonaria seria comunicado somente aos iniciados nos dois últimos graus, os de “Professo” e do “Grande Professo”. A denominação de Superior Incógnito, que tinha sido condenada anteriormente, foi ressuscitada no convento, e era designada àqueles portadores de alta doutrina da Ordem. Entretanto, o verdadeiro objetivo da Maçonaria, permanecia desconhecido por todos aqueles que não tinham entrado realmente dentro da iniciação, embora portassem títulos de nobreza e mesmo os altos graus do “Rito Escocês Rectificado”. Além disso, havia várias tendências maçônicas e de outras sociedades espiritualistas que colocavam uma grande confusão nas mentes dos vários grupos maçônicos, oriundos de regiões diferentes. Havia assim, a necessidade da realização de outro convento.

CONVENTO DE WILLELMSBAD DE 1782:

Foi assim que quatro a nos mais tarde, em 1782, se realizou outro em Willelmsbad, com um número maior de participantes em relação àquele efetivado na cidade de Lyon em 1778. As reuniões duraram 45 dias e lá estavam presentes Willermoz e Saint-Martin, bem como, representantes dos Filaletes, dos Iluminados da Baviera, etc, todos ligados à Estrita Observância Templária.

A diversidade de idéias e de opiniões impediu que se chegasse a um denominador comum e que se definisse com precisão a doutrina da Ordem. Desta maneira, acabou-se mantendo as mesmas resoluções do Convento de Lyon, inclusive a doutrina de Martinez. Abandonou-se a pretensão da descendência direta dos Templários, evocando-se, entretanto uma filiação espiritual, oriunda do Mundo Invisível.

Os rituais foram modificados substancialmente, diferenciando o sistema da Maçonaria Tradicional. Esta é a razão pela qual o sistema foi denominado de RITO ESCOCÊS RETIFICADO.




OS DIRETÓRIOS ESCOCESES NA FRANÇA:

O regime Escocês Rectificado originou-se da introdução na França, dos diretórios escoceses em 1773 e em 1774 pelo Barão de Weiler, que retificou certas lojas existentes em Estrasburgo segundo o rito da Estrita Observância Templária da Alemanha, cujo Grão-Mestre da loja de Saxe (região da Alemanha Oriental) era o Barão de Hund. Após uma longa troca de correspondências com Willermoz, Weiler instalou em 1774 em Lyon o primeiro Grande Capítulo da região e colocou Willermoz como chefe ou delegado regional.


Nesse mesmo ano, outros diretórios foram constituídos em Montpellier e em Bordeaux, cidade onde residia Martinez. O sistema era constituído por 9 graus, consistindo de três classes:


1a classe: Aprendiz, Companheiro e Mestre

2ª classe: Escocês vermelho e Cavalheiro da Águia Rosa Cruz

3a classe: (ordem interna): Escocês verde; Escudeiro noviço; Cavalheiro e Professos.

Os Professos eram considerados SUPERIORES INCÓGNITOS, pois não eram conhecidos dos membros da Ordem. O seu chefe, que mais tarde tornou-se conhecido, era o Duque Ferdinando de Brunswick, que possuía o título de Grande Superior da Ordem.



Fonte:
Bede, Elbert 33º, “3 – 5 – 7 Minute Talks on Freemasonry”, Macoy Publishing & Masonic, Richmond, 1981
Case, Paul Foster, “The Masonic Letter ‘G’”, Macoy Publishing & Masonic Supply, Richmond, 1981
Cryer, Revd. Neville Barker, “Compendium of Masonic Prayers and Graces”, Ian Allan Publishing, Surrey, 2010
Durand, Gilbert, “Les Mythes Fondateurs de la Franc-Maçonnerie”, Editions Dervy, Paris, 2002
Faulks, Philippa and Cooper, Robert, “The Masonic Magician” – The Life and Death of Count Cagliostro and His Egyptian Rite”, Watkings Publishing, London, 2008
Grant, Revd. William, “The All-Seeing Eye”, Lewis Masonic, Surrey, 2008
Matos, Luis, “A Maçonaria Desvendada – Reconquistar a Tradição”, Zéfiro, Sintra, 2010
Powell, Arthur Edward, “A Magia da Franco-Maçonaria”, Zéfiro, Sintra, 2010
Rees, Julian, “The Stairway of Freemasonry”, Lewis Masonic, Surrey, 2007
Tourniac, Jean, “Principes et Problémes Spirituelles du Rite Écossais Rectifié”, Dévry Livres, Paris, 1985
Wirth, Oswald, “O Simbolismo Oculto da Franco-Maçonaria”, Zéfiro, Sintra, 2010










quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Hiran Abiff




Colaboração: UBEGURAN

Os Reis Hicsos (no Egito)

É provável que durante o período dos hicsos no Egito os membros das tribos habirus tenham experimentado um status social mais elevado e se tomado mais assimilados à vida nas cidades. Antes disso a única maneira que um desses pastores do deserto tinha para aumentar suas posses e usufruir os benefícios da vida urbana era oferecer-se como escravo para uma família egípcia. Esse arranjo não era escravidão no sentido em que hoje a imaginamos: era mais como ser um serviçal preso a um contrato vitalício. Os salários podem não ter sido bons, mas a qualidade de vida era bem mais alta que as aspirações da vasta maioria do povo.
Assim que os reis hicsos se estabeleceram, começaram a patrocinar a construção de templos e a produção de estátuas, relevos, escaravelhos, trabalhos artísticos em geral e alguns dos melhores trabalhos literários e técnicos de seu tempo. Aparentemente eles tinham pouca herança cultural própria e rapidamente adotaram os hábitos e costumes egípcios. Esses novos governantes começaram a escrever seus nomes em hieróglifos, assumindo os títulos tradicionais dos reis egípcios e até escolhendo nomes egípcios para si próprios. Os reis hicsos, a princípio, espalharam sua influência para dominar o Baixo Egito, a maior e mais rica das duas terras, a partir da nova cidade de Avaris. Adotaram como seu deus estatal uma deidade que já tinha sido especialmente reverenciada na área onde primeiramente se haviam estabelecido.
Esse deus era Set, que tinha grandes semelhanças com seu anterior deus canaanita Baal. Centraram sua teologia em Set, mas também aceitavam Ra como um deus maior e o honram nos nomes reais que escolheram. Mais tarde controlaram ambas as Duas Terras a partir da velha capital Mênfis. É justo dizer que havia um tipo de relação simbiótica pela qual os invasores ganhavam cultura e refinamento tecnológico enquanto os egípcios ganhavam uma tecnologia nova como a dos carros de combate e outros armamentos, inclusive os arcos compostos e as espadas de bronze para substituir seus velhos e simples armamentos. Eles também ganharam mais uma coisa importante dos hicsos: o cinismo. Eles já tinham sido abertos e vida mansa demais no passado para seu próprio bem, dando pouca atenção à defesa proativa de seu país. A experiência do período dos hicsos lhes ensinou uma poderosa lição e uma nova maneira positiva de encarar a realidade emergiu, assentando-lhes as fundações para o ressurgimento do espírito do Egito naquilo que hoje chamamos de Novo Reino.
Apesar de terem perdido o controle da velha capital, Mênfis, elementos da verdadeira monarquia egípcia continuaram a existir no Alto Egito, na cidade de Tebas. Em seus registros fica claro que os
tebanos reconheciam a soberania de seus dominadores asiáticos, com os quais parecem ter estado em bons termos. Com o tempo os reis hicsos se tornaram absorvidos em muitas das práticas religiosas e culturais do Egito, e inevitavelmente um problema político/teológico surgiu. Os invasores começaram a desejar ter poder espiritual da mesma forma que já tinham poder físico. Por exemplo, o dominador hicso chamado rei Khyan (ou Khayana) assumiu o nome real egípcio de "Se-user-en-re", assim como os títulos de "o Bom Deus" e "Filho de Ra", e em adição criou para si próprio o nome de Horus 'Abarcador-das-Regiões", um título que sugeria dominação mundial. Essa declaração por parte de um hicso de ser o "Filho de Deus" deve ter ultrajado o povo egípcio em todos os âmbitos. Aqui, acreditamos, existe uma questão essencial que ainda não foi estudada pelos egiptólogos modernos.
Agora sabemos que havia um ponto muito especial durante o processo de feitura dos reis que tornava o novo Horus não desafiável: mas os futuros reis hicsos, com todo o seu poder estatal e sua
emulação da religião egípcia, estavam excluídos desse louvor exclusivo. Como poderia um estrangeiro simplesmente mudar seu nome de Khyan para Seuserenre e se auto denominar como Horus sem passar pelo processo de iniciação secreta conhecido apenas pelos verdadeiros reis do Egito e seu grupo interno? A resposta é simples: não poderia. Fica completamente fora dos limites da razão pensar que os egípcios teriam partilhado seus maiores segredos com esses estrangeiros brutais: mas como Khyan queria desesperadamente esse poderoso título e não tinha acesso legítimo a ele, não lhe restou outra opção a não ser assumi-la por vacância.
Relações superficiais entre os egípcios e seus novos mestres eram boas, mas o ressentimento devia ser muito grande. Além do mais, apesar de imitar o estilo e os costumes egípcios, os hicsos permaneciam essencialmente diferentes. O enxerto dos hicsos no Egito foi a melhor das hipóteses superficial. Eles falavam o egípcio com um sotaque engraçado, usavam barbas (os egípcios se barbeavam todos os dias, a não ser quando de luto) tinham uma maneira estranha de se vestir e se transportavam em estranhas máquinas com rodas que chamavam de carros, que eram puxados por cavalos em vez de burros.

A Perda dos Segredos Originais

Continuamos nossa pesquisa do final do Reino Médio e ficamos certos de que as tensões entre os novos reis hicsos e a verdadeira linhagem real egípcia deve ter alcançado o ponto máximo com as falsas coroações como Horus. Se estivéssemos certos sobre a cerimônia secreta de ressurreição dos reis legítimos, teria que ter havido problemas para afastar esses presunçosos enxeridos que pressionavam para obter os segredos reais agora que já tinham tomado todo o resto.
Ter o controle da vida cotidiana era uma coisa: levar esse controle para o reino dos deuses, tanto os terrestres quanto os celestes, deve ter sido intolerável. Uma vez que os reis hicsos já eram da terceira e quarta gerações nascidas no Egito e haviam assumido a teologia egípcia, parece quase certo que se sentiam com direito a possuir os segredos de Horus, já que se consideravam como sendo eles mesmos Horus. E (talvez mais importante) eles queriam ser Osíris na morte e transformar-se em uma estrela que brilhasse para todo o sempre.
Tendo se tornado reis do Egito, por que deveriam morrer uma morte canaanita, quando morrer como Horus lhes garantiria a vida eterna?
Essa foi uma época complexa e fascinante, e nós estudamos e reestudamos os eventos e personagens envolvidos. Alguma coisa sobre este período em geral e sobre as atitudes dos verdadeiros reis do Egito - mas particularmente Seqenenre Tao II - começou a incomodar Chris. Esse rei ficou restrito à cidade de Tebas no Alto Egito até o fim do domínio dos hicsos, e por uma grande variedade de pequenas razões Chris começou a sentir que a história de Hiram Abiff poderia ter-se iniciado com uma batalha de poder entre Seqenenre Tao II e o importante rei hicso Apepi I, que tomou o nome real egípcio de A-user-re ("Grande e Poderoso como Ra") e o título de "Rei do Alto e Baixo Egito, Filho de Ra".
Por meses Chris estudou esse período, procurando mais e mais evidências que afastariam ou confirmariam suas suspeitas. Essas suspeitas lentamente se solidificaram em uma intuição muito forte. Chris nos conta como isso se deu: "Eu sabia que o rei hicso Apepi também era conhecido como Apophis. Este era um exemplar de nomenclatura que me alertou para o seu envolvimento em uma batalha espiritual que não era nada mais do que a recriação da fundação do Egito por Osíris, Isis e o primeiro Horus. Fiquei convencido de que Apophis era um homem que deliberadamente se dedicou a obter os segredos dos verdadeiros reis egípcios
- a qualquer preço!".
"O povo hicso era guerreiro e auto-centrado. Adotavam como seu deus principal Set, o assassino de seu irmão Osíris, o deus que todo rei egípcio almejava tornar-se. Identificando-se com Set os hicsos demonstravam seu desdém para com o povo egípcio e sua aliança com as Forças do Mal. O conceito de Ma'at deve ter parecido muito tolo a Apophis, e sintomático da 'moleza' que havia permitido a seus antepassados a tomada do Egito.
O oposto de Ma'at era chamado Isfet, que significava conceitos negativos como o egoísmo, a falsidade e a injustiça, e de acordo com a mitologia egípcia o líder desses atributos de Isfet era um deusserpente monstruoso, malvado, com a aparência de um dragão, denominado... Apophis. Fiquei surpreso ao descobrir que esse poder maligno tinha o mesmo nome que o rei hicso". "Os epítetos desse monstro anti-Ma'at incluíam 'aquele com a aparência malvada' e 'aquele que tem o caráter cruel', e para os egípcios era a própria corporificação do caos primordial. A serpente da qual o rei hicso havia tirado seu nome era representada como sendo cega e surda para todas as coisas; ela podia apenas gritar dentro da escuridão e era expulsa todos os dias pelo nascer do sol. Não admira que o grande terror de cada egípcio fosse essa serpente maligna.
Apophis, em uma noite escura, finalmente venceria a batalha contra Ra e o dia seguinte nunca nasceria.
Para defender-se dessa ameaça sempre presente, liturgias eram recitadas diariamente nos templos do deus-sol para apoiar a batalha contínua entre as forças da luz e das trevas".
"Acabei sabendo que uma vasta coleção de liturgias auto descritivas havia sido descoberta como O Livro para a Derrota de Apophis. Esse era um livro secreto que era guardado no templo e continha centenas de palavras mágicas para afastar os males de Apophis, dando ao leitor iniciante as instruções precisas de como fazer figuras de cera da serpente que podiam ser amassadas até a deformidade, destruídas pelo fogo ou desmembradas com facas. O livro exigia que o estudante executasse esses atos todas manhãs, meio-dia e meia-noite e, mais especialmente, nos momentos em que o Sol estivesse obscurecido por nuvens".
"Seiscentos e cinqüenta quilômetros ao sul de Avaris, a cidade de Tebas continuava com sua linhagem de reis egípcios, a despeito de se curvarem ao poder dos hicsos e do pagamento aos coletores de impostos de Apophis de todas as taxas devidas. Apesar de estarem isolados e empobrecidos, os tebanos lutavam para manter os costumes do período do Reino Médio que lhes eram tão caros. Haviam sido impedidos pelos hicsos (e seus títeres de Kush) de ter acesso às madeiras da Síria, ao calcário de Tura, ao ouro da Núbia, ao marfim e ao ébano do Sudão e às pedreiras da moderna Assuã e do Wadi Hammamat, o que os forçou a improvisar novas técnicas de construção. Mesmo com as severas limitações que enfrentavam acabaram por produzir excelentes edifícios, ainda que usassem mais tijolos de lama que pedras. De qualquer forma, as crescentes dificuldades parecem ter trazido um ressurgimento do espírito e determinação que haviam tornado o Egito grande, e mesmo enquanto a qualidade de vida continuava a ser prejudicada, o aprendizado e cultura começaram a se desenvolver. Essa pequena cidade-reino começou a se erguer da depressão e da desordem e a pôr-se de pé contra os asiáticos do Baixo Egito".
"Minha descoberta era a de que por volta do trigésimo quarto ano de reinado de Apophis ele instruiu o rei de Tebas para que lhe revelasse todos os segredos de Osíris, para que finalmente pudesse alcançar a vida eterna, que era seu direito como 'verdadeiro' rei das Duas Terras. O rei tebano Seqenenre Tao II era um jovem firme que se considerava o verdadeiro Horus e não tinha nenhum interesse em partilhar seus direitos de nascimento com quem quer que fosse, quanto mais esse asiático barbudo que usava o nome da 'serpente das trevas'.
Sua recusa imediata deve ter gerado grande tensão entre os dois, e o rei Apophis começou a usar seu poder contra Seqenenre de todas as formas possíveis. Um exemplo significativo desse conflito foi a ordem dada por Apophis de Avaris a Tebas (uma distância de seiscentos e cinqüenta quilômetros) reclamando a Seqenenre por causa de barulho:
Faça com que a lagoa dos hipopótamos, que fica a leste da cidade, seja extinta. Pois eles não permitem que me venha o sono nem de dia nem de noite.
"Essa mensagem não era apenas um joguinho tolo para humilhar Seqenenre. Ela ilustra um poder
muito claro tentando estabelecer nada menos que o direito divino de governar. Apophis já tinha todo o poder de Estado que desejava, mas o que ele não tinha era o segredo da ressurreição e a bênção dos deuses. Sua mensagem era profundamente política. Os tebanos haviam revivido o arpoamento ritual de hipopótamos em sua lagoa a leste da cidade: era um antigo ritual sagrado executado para garantir a segurança da monarquia egípcia. Isso era claramente feito para irritar Apophis, mas doía mais ainda por ser o hipopótamo uma das formas do deus dos hicsos. Portanto, o rei asiático estava sendo duplamente insultado".
''Esse embate pelo poder deve ter continuado por algum tempo, mas eu creio que em um certo momento Apophis decidiu encerrar com a imprudência do rei tebano, e extrair os segredos de Seqenenre de uma vez por todas. O resultado seria a morte de Seqenenre seguida de perto pela expulsão dos hicsos e a volta à regra dos reis egípcios".
A Evidência Bíblica
Nosso próximo passo foi considerar uma outra fonte de informação adicional muito importante, que poderia nos dar uma outra perspectiva do embate Seqenenre-Apophis. Nossas visões dos eventos do século XVI a.C. haviam se desenvolvido a partir de uma mistura de informação tirada tanto da história do Egito quanto do ritual maçônico: agora o Livro do Gênese poderia ser adicionado a essa mistura porque, surpreendentemente, descobrimos que ele é riquíssimo em informação sobre esse período.
As figuras-chave que poderiam, potencialmente, ter alguma ligação com Seqenenre e Apophis são
Abraão, Isaac, Jacó, José e, possivelmente, Moisés. Datar esses personagens havia se mostrado muito mais difícil para os peritos do que aqueles de períodos mais tardios da história judaica, de David e Salomão em diante, quando existem na História pontos de referência cruzada muito mais claros. O ponto de partida lógico para tentar identificar essas cinco figuras famosas foi José, o asiático ou protojudeu que, como diz a Bíblia, veio a ocupar o mais alto cargo do Egito, estando abaixo apenas do próprio rei. A história de José, desde que foi vendido como escravo por seus irmãos até sua ascensão ao poder no Egito e seu famoso manto de muitas cores (derivado de uma tradução incorreta de "um casaco de longas mangas") é bem conhecida e geralmente aceita como sendo baseada em uma pessoa real. No entanto, a lenda foi superenfeitada por escribas posteriores que foram os primeiros a transformar a tradição oral para a forma escrita.
Referências a camelos como bestas de carga e o uso de moedas são historicamente impossíveis, porque nem camelos nem moedas existiam até muitas centenas de anos após a última data possível de referência a José.
De acordo com o Livro do Gênese, Abraão desceu ao Egito quando tinha setenta e cinco anos de idade, e teve seu filho Isaac aos cem anos, morrendo setenta e cinco anos depois. Isaac teve dois filhos, Jacó e Esaú, quando tinha sessenta anos de idade e Jacó teve doze filhos, sendo José o segundo mais novo. Parece seguro assumirmos que tenha havido algum exagero nisso, particularmente no que concerne à idade de Abraão. Para trabalhar com períodos de tempo mais realistas, podemos começar por assumir que José estava no ápice de seu poder no Egito entre as idades de trinta e sessenta anos. Podemos então voltar até um período de tempo provável entre sua época como Grande Oficial do Egito e a chegada a essa terra de seu bisavô Abraão. Jacó aparentemente adorava ser pai de crianças com tantas mulheres quantas pudesse, incluindo suas duas esposas e suas criadas. José era um dos mais jovens e é provável que seu pai já fosse relativamente velho à época de seu nascimento, portanto, aceitemos que Jacó tinha sessenta anos. Podemos aceitar a idade bíblica de sessenta anos para Isaac no nascimento de Jacó, mas teremos que, mais realisticamente, reduzir os cem anos de Abraão para uns setenta anos. Essas idades seguem o espírito de informação dado pela Bíblia sem aceitar os obviamente impossíveis extremos que foram impostos à História.
O Livro do Gênese nos conta que Sara, a mulher de Abraão, era uma bela mulher e que Abraão temia que os egípcios quisessem matá-lo para roubá-la, portanto, dizia a todos que ela era sua irmã. A lógica é difícil de seguir, mas como eles são mais tarde descritos como velhos e já tendo superado a idade de fazer amor quando Isaac finalmente nasceu, isso indica que os dois eram bastante jovens ao dirigir-se para o Egito.
Na outra ponta de nossa escala encontramos uma pista na história de José, que nos ajuda a identificar uma data histórica. Essa pista é uma referência ao uso de um carro puxado por cavalos, que coloca com clareza esse evento no período dos hicsos, porque esses eram os veículos dos dominadores asiáticos, não dos reis nativos.
Aceita-se que, de maneira geral, havia elementos semitas entre os invasores, e que esse seria um período durante o qual imigrantes semitas seriam favoravelmente recebidos. Muitos estudiosos comentaram que a mudança de dinastias que se seguiu à expulsão dos hicsos pode corresponder à ascensão de "um novo rei que não conhecia José" (Êxodo, 1:8) e que quaisquer estrangeiros deixados no Egito estariam sujeitos a ser tratados da maneira descrita nos primeiros capítulos do Êxodo. Há pouco lugar para dúvidas de que a migração dos hebreus para o Egito durante uma seca em Canaã e a dominação dos hicsos sobre o Egito ocorrem paralelamente à ascensão política de José. O faraó o período de José recebeu bem os hebreus em seu reino porque ele era hicso, portanto, também um semita, como eles.
Já foi aventada a hipótese de que quando só hicsos foram derrubados, o novo monarca egípcio considerava os hebreus como aliados dos hicsos e, portanto, se pôs a escravizá-los. Os peritos parecem ter sido lentos em chegar à conclusão óbvia desta evidência. Os versículos 8 e 9 do Êxodo nos dão a data mais clara possível para José e esse faraó não-identificado:
Nesse ínterim um novo rei subiu ao trono do Egito, que não conhecia José. E ele disse a seu povo:
"Cuidado, o povo dos filhos de Israel é numeroso e mais forte do que nós".
Havíamos concluído com certeza que José foi contemporâneo a Apophis, e, portanto, de Seqenenre
Tao. Precisávamos nos recordar constantemente de não tomar nenhuma das palavras do Antigo Testamento como evidência conclusiva, por causa do abismo de tempo entre os eventos e aqueles que eventualmente os registraram. Lembrem-se das referências a camelos e moedas: podem ter se enganado quanto aos detalhes. Mesmo assim, o quadro geral é provavelmente um bom indicador do que efetivamente aconteceu naquela época. Em termos bem simples a Bíblia nos conta que José se tornou o homem mais importante do Egito, abaixo apenas do próprio faraó, levando-nos a concluir que José foi o vizir do rei Apophis, de tão longo reinado,o oponente de Seqenenre Tao II.
Trabalhamos na cronologia para trás a partir da confrontação entre Apophis e Seqenenre, datada pela maioria dos estudiosos como tendo ocorrido em 1570 a.C., e para o cômputo geral aceitamos que o vizir José tinha por volta de cinqüenta anos nessa época. O seguinte padrão então emergiu:
1570 a.C Vizir José (possivelmente com 50 anos de idade).
1620 a.C. Nascimento de José (seu pai Jacó reconhecidamente velho, provavelmente com 60 anos).
1680 a.C. Nascimento de Jacó (seu pai Isaac com 60 anos de idade).
1740 a.C. Nascimento de Isaac (seu pai Abraão reconhecidamente muito velho, digamos, 70 anos).
1780 a.C Abraão chega ao Egito pela primeira vez (provavelmente com 30 anos de idade).
As idades que estabelecemos são tão fiéis quanto a informação disponível na Bíblia é razoavelmente possível, e trabalhando em direção ao passado a partir do conflito entre Apophis e Seqenenre conseguimos estabelecer a chegada de Abraão no Egito precisamente no ano que foi identificado como o início do reinado dos hicsos!
A conclusão dramática é inescapável: Abraão era ele próprio um hicso, talvez até mesmo um príncipe: recordemo-nos de que o termo hicso significa simplesmente "príncipes do deserto", e que toda a evidência aponta para Abrão sendo um homem bem-nascido de Ur.
Ficávamos constantemente nos recordando de que os autores dessas histórias tinham uma distorção
de pelo menos mil anos com que lidar, e que eles, como outras pessoas supersticiosas, tentariam acomodar seus preconceitos e crenças dentro da história que interpretavam e transcreviam. O Livro do Gênese começa com relatos extremamente antigos das origens do homem, mas rapidamente se afasta dessas lendas distantes e chega à relativamente recente história dos escribas. Em nenhum ponto os autores mencionam abertamente as conquistas asiáticas dos egípcios, que se sabe ter acontecido em algum período entre Abraão e Moisés. Seriam eles ignorantes desse período, ou estariam simplesmente envergonhados dele? Não podemos saber, mas esses fatos estarem ausentes de seu relato desses anos tão significativos para a história nos pareceu muito estranho.
O Assassinato de Hiram Abiff
O rei Seqenenre estava em meio a uma grande batalha mental com Apophis, a força das antigas trevas materializada como um rei hicso no Baixo Egito, e ele precisava de todo o poder do deus-sol
Amon-Ra para tornar-se vitorioso. Todos os dias ele deixava o palácio real de Malkata para visitar o Templo de Amon-Ra na hora do meio-dia, quando o sol estava em seu meridiano e um homem não projetava praticamente nenhuma sombra, nenhuma nódoa de escuridão, no solo. Com o sol em seu zênite o poder de Ra estava em seu ponto máximo e o da serpente das trevas, Apophis, em seu ponto mínimo.
Essa declaração - "enquanto nosso Mestre Hiram Abiff se recolhia para prestar suas homenagens ao Mais Alto, como era seu costume, sendo a hora do meio-dia".
Eis nossa reconstrução dos eventos. Determinado dia, sem que Seqenenre disso tivesse conhecimento, conspiradores enviados por Apophis já haviam tentado extrair os segredos de Osíris dos dois sacerdotes mais graduados e, tendo falhado em seus intentos, os haviam matado. Estavam
aterrorizados pelo que agora teriam que fazer, enquanto esperavam pelo próprio rei, cada um deles em uma saída diferente do Templo. Assim que Seqenenre terminou suas preces ele se dirigiu para a porta do sul onde foi abordado pelo primeiro dos três homens, que lhe exigiu os segredos de Osíris. Ele ficou firme e enfrentou a todos.
... terminadas suas orações, preparou-se para sair pela Porta do Sul, onde foi abordado pelo primeiro desses rufiões que, na falta de melhor arma, havia se armado com uma régua, e de maneira ameaçadora exigiu de nosso Mestre, Seqenenre, os verdadeiros segredos de Osíris, avisando-o de que a morte seria a conseqüência de sua recusa: mas fiel à sua obrigação este replicou que esses segredos eram conhecidos apenas por três homens em todo o mundo, e que sem o consentimento dos outros dois ele não poderia e nem efetivamente os divulgaria...
E que falando por si mesmo, preferia sofrer a morte a trair a sagrada confiança nele depositada. Essa resposta não sendo satisfatória, o rufião deu um forte golpe na cabeça de nosso Mestre, mas abalado por sua postura firme, apenas conseguiu acertar-lhe a têmpora direita, ainda assim com força suficiente para que ele se abalasse e caísse ao chão sobre o joelho esquerdo.
Recobrando-se dessa situação, ele correu para o pomo do Oeste, onde foi oposto pelo segundo rufião, a quem respondeu como antes, ainda com firmeza não diminuída quando o rufião, que estava armado com um nível aplicou-lhe um violento golpe na têmpora esquerda que o fez cair ao solo sobre seu joelho direito.
Percebendo que todas as chances de escapar por esses dois portões estavam cortadas, nosso Mestre cambaleou, fraco e sangrando, até a porta do Leste onde o terceiro rufião estava colocado e que, recebendo uma resposta idêntica às suas insolentes exigências pois nosso Mestre permaneceu fiel à sua obrigação mesmo em seu momento mais difícil - deu-lhe um violento golpe no centro da testa com um pesado maço de pedra, que o deixou sem vida a seus pés.
Os segredos da feitura dos reis egípcios morreu com Seqenenre,o homem que chamamos de Hiram
Abiff, "o rei que foi perdido".
Estávamos sentindo que já tínhamos o mais provável candidato para nosso Mestre maçônico e começamos a pesquisar mais profundamente sobre o que se sabe sobre esse homem. Ficamos tremendamente impressionados quando lemos pela primeira vez os detalhes da múmia de Seqenenre - com os incríveis fatos dos ferimentos de Seqenenre detalhadamente descritos:
Quando em Julho de 1881 Emil Brugsch descobriu a múmia do Faraó Ramsés II, no mesmo nicho
estava outro corpo real, pelo menos 300 anos mais velho que o de Ramsés, sendo isso perceptível pelo odor pútrido que exalava. De acordo com as marcas esse era o corpo de Seqenenre Tao, um dos senhores nativos do Egito forçados a viver no extremo sul em Tebas durante o período dos hicsos, e como era patente até para os olhos menos treinados, Seqenenre havia encontrado um fim violento. O centro de sua testa havia sido afundado... outro golpe havia fraturado a órbita de seu olho direito, o lado direito de seu maxilar e seu nariz. Um terceiro golpe havia sido dado atrás de sua orelha esquerda, quebrando o mastóide até a primeira vértebra do pescoço.
Era aparente que em vida tinha sido jovem alto e elegante com cabelos negros encaracolados, mas
a expressão fixa em sua face mostrava que havia morrido em agonia. Após a morte parece não ter sido bem cuidado, pois seu corpo tem todos os sinais de haver sido abandonado por algum tempo antes da mumificação, donde o odor pútrido e os sinais de decomposição inicial. Registros egípcios são silenciosos quanto à morte de Seqenenre, mas quase certamente foi pelas mãos dos hicsos/canaanitas.
O impossível havia acontecido. Havíamos identificado Hiram Abiff e, além disso, seu corpo ainda existe. Os ferimentos combinam perfeitamente. Um cruel golpe que lhe quebrou os ossos em toda a
extensão do lado direito de sua face: ele certamente teria tonteado e caído de joelhos com um golpe
desses. Sendo jovem, alto e encorpado pôs-se de pé da forma como os homens fortes o fazem quando em momentos de necessidade, mas encontrou outro atacante que feriu o lado esquerdo de sua cabeça, novamente quebrando-lhe os ossos. Muito enfraquecido e próximo ao colapso ele ainda tentou retomar suas forças, mas o último e letal golpe acertou exatamente o centro de sua testa, matando-o instantaneamente. Outra inscrição que encontramos descreve claramente esses ferimentos: Os terríveis ferimentos no crânio de Seqenenre foram causados por pelo menos duas pessoas atacando-o com uma adaga, um machado, uma lança e possivelmente um maço.
Foram necessários muitos dias para que nossa excitação voltasse a níveis suportáveis para nos permitir pensar em avançar em nossas investigações, e quando isso aconteceu, fizemos uma revisão do que já tínhamos. Os instrumentos sugeridos como armas do crime recordavam a lenda maçônica na qual Hiram é atacado com uma variedade de ferramentas de construção, incluindo um pesado malho que certamente produziria ferimentos similares aos de um maço. A descrição prévia dos sinais de decadência de seu corpo mostra que os embalsamadores reais não receberam o corpo senão depois de algum tempo de sua morte.
Com seus temores naturalmente ampliados pela segurança de seu artista principal, ele selecionou quinze fiéis Companheiros, e lhes ordenou que fizessem diligentes buscas pela pessoa de nosso Mestre, certificando de que ainda estivesse vivo, ou de que tivesse sofrido na tentativa de extrair-lhe os segredos de seu exaltado grau. Um dia certo tendo sido determinado para seu retomo a Jerusalém, organizaram-se em três Lojas de Companheiros e partiram pelas três saídas do Templo. Muitos dias foram gastos em infrutíferas buscas: na verdade um dos grupos retomou sem ter feito nenhuma descoberta importante. O segundo grupo foi mais afortunado, pois na tarde de um certo dia, após haver sofrido as maiores privações e fadigas pessoais, um dos Irmãos que havia se colocado em postura reclinada, para ajudar-se a erguer, segurou-se em uma moita que nascia ali perto a qual, para sua surpresa, saiu com facilidade do solo: examinando-a mais de perto, descobriu que a terra havia sido recentemente revolvida: e, portanto, chamou a seus companheiros, e com seus esforços unidos reabriram essa cova e encontraram o corpo de nosso Mestre recentemente enterrado. Cobriram-no outra vez com todo o respeito e reverência, e para marcar o lugar, enfiaram um ramo de acácia sobre a cova, apressando-se então para Jerusalém para dar as aflitivas notícias ao rei Salomão.
Quando as primeiras emoções de tristeza do rei haviam diminuído, ele lhes ordenou que retomassem e erguessem nosso Mestre para um sepulcro que estivesse de acordo com sua posição e talentos: ao mesmo tempo informando-lhes que por sua morte inesperada os segredos dos Mestres Maçons estavam perdidos. Portanto, ordenou-lhes que ficassem particularmente atentos a quaisquer sinais ou palavras que ocorressem, enquanto pagavam esse último e triste tributo de respeito ao mérito do morto.
Tiremos Hiram Abiff do tempo do rei Salomão e tudo o mais faz sentido. Estávamos também muito interessados em descobrir se o corpo do rei Seqenenre era o único corpo de rei conhecido do Antigo Egito que exibia sinais de morte violenta.
Portanto tínhamos agora a história de um homem morto por três golpes enquanto protegia os segredos reais egípcios dos invasores hicsos. Mas e sobre a ressurreição? Seqenenre obviamente não havia ressuscitado, já que seu corpo está no Museu do Cairo, portanto, nossa história ainda não estava completa. Decidimos, então, examinar nosso ritual maçônico.
Os Assassinos de Hiram Abiff
Eram os assassinos verdadeiros que nos interessavam, não o simbolismo tardio. Como já mostramos, as circunstâncias da vida de José descritas na Bíblia indicam que ele foi vizir do rei hicso Apophis, e, portanto, é bem provável que estivesse envolvido no plano para extrair os segredos de Seqenenre.
A Bíblia também nos conta que o pai de José, Jacó, teve uma troca simbólica de nome mais tarde
em sua vida, quando se tornou Israel, e seus doze filhos foram identificados com as doze tribos de Israel. Essa foi, claramente, a idéia dos autores posteriores da história judaica, que procuravam pelo momento claramente definido em que a nação tivesse formalmente começado a existir. Os filhos de Jacó/Israel eram circunstâncias históricas que pareciam apropriadas ao status de tribos, na época em que os escritores do Gênese colocaram a tinta sobre o papiro. A tribo de Ruben parece ter perdido importância enquanto que a tribo de Judá se tornou a nova elite, portanto, chamamos os descendentes dos israelitas de "judeus", não de "rubeus". Buscando alguma coisa que pudesse ser uma pista nessas passagens da Bíblia, chegamos a um estranho versículo na versão do rei Jaime, em Gênese 49-6 que não se refere a nada conhecido. Aparece exatamente no ponto em que Jacó está morrendo e refletindo sobre as ações de seus filhos, os novos cabeças da tribos de Israel:
Ó minha alma, que não entres em seu segredo, com sua assembléia, minha honra, não te unas: pois em sua ira assassinaram um homem, e de sua vontade própria derrubaram uma parede.
Aqui encontramos referência a um assassinato que deve ter sido considerado importante o bastante
para ser incluído, ainda que não explicado. Quais segredos eram buscados? Quem foi assassinado?
A Igreja Católica descreve isso como uma referência profética ao fato de que os judeus mataram seu Cristo, mas essa informação não faz sentido. Nossa tese sugere uma possibilidade mais sensível. As primeiras palavras não são nem um pouco ambíguas: "que não entres em seu segredo". Em linguagem moderna o significado é "não conseguiste conhecer o seu segredo". A acusação final é a seguinte: "não só vocês não conseguiram o seu segredo, como também para piorar as coisas vocês perderam o controle e o mataram, prejudicando tudo e fazendo com que o mundo caísse sobre nossas cabeças!".
Os dois irmãos e futuras tribos de Israel que são responsabilizados por esse assassinato desconhecido são Simeão e Levi, os filhos de Jacó/Israel com a cega Lia a quem ele desprezou. Essas tribos eram claramente amaldiçoadas pelo que haviam feito quando "assassinaram um homem", mas quem era essa vítima inominada?
Apesar de acharmos improvável que os assassinos de Hiram Abiff fossem realmente chamados Simeão e Levi e que tivessem sido efetivamente os irmãos de José, parece bastante possível que esse estranho versículo contivesse a tradição folclórica do assassinato de um homem inominado que tivesse trazido desgraça a duas das Tribos de Israel. E mais ainda: porque seria esse crime tão importante a ponto de merecer estar incluído na história dos judeus, enquanto o indivíduo assassinado permanece não identificado?
Nós nos achávamos ainda mais convencidos de que a resposta podia estar em Seqenenre Tao. Os eventos que levaram a seu assassinato, já resumidamente narrados, e suas decorrências são tão essenciais à nossa tese que consideramos importante repassá-los com o máximo de detalhes.
Apophis estava ultrajado. Quem esse reizinho de Tebas pensava que era? Ele não compreendia que o mundo havia mudado para sempre e que seu império era apenas história, esmagada sob os calcanhares dos algozes hicsos?
O rei chamou seu vizir José, que havia alcançado posição tão alta por ser capaz de interpretar os
sonhos de Apophis, e lhe disse que o tempo da convivência amigável havia terminado: os segredos
deviam ser tomados de Seqenenre sem demora. O rei estava ficando velho e tinha todas as intenções possíveis de conseguir uma pós-vida egípcia.
José foi feito responsável pelo projeto, e quem melhor para executá-lo que dois desafetos entre seus irmãos, efetivamente Simeão e Levi? Se fossem apanhados e mortos não teria importância, pois não mereciam sorte melhor já que haviam vendido José como escravo muitos anos antes. Caso se dessem bem, melhor ainda:
José seria um herói e seus irmãos teriam pago uma velha dívida.
Os irmãos foram rapidamente instruídos sobre o que fazer e sobre o mapa da cidade. Podem ter raspado suas reveladoras barbas de hicsos antes de entrar em Tebas, para não chamar muita atenção sobre si próprios.
Uma vez na cidade entraram em contato com um jovem sacerdote do Templo de Amon-Ra, conhecido por ser ambicioso e facilmente influenciável. Os irmãos explicaram que Apophis era tremendamente poderoso e havia decidido destruir Tebas se não conseguisse arrancar o segredo de Seqenenre. O jovem sacerdote (chamemo-lo Jubelo) foi informado de que apenas ele poderia afastar o desastre que cairia sobre toda a população de Tebas caso não os ajudasse a extrair o segredo, tornando desnecessário o ataque de Apophis, também garantindo que seria feito alto-sacerdote de Apophis assim que os segredos estivessem seguros e a luta política com Seqenenre estivesse resolvida. Jubelo tinha muito medo desses asiáticos ameaçadores, mas sabia o que acontecera em Mênfis quando os hicsos ficaram insatisfeitos. Talvez a única coisa que lhe restasse fazer fosse trair a confiança nele depositada: em qualquer caso ele bem podia se ver como alto-sacerdote, mesmo que do malvado deus Apophis.
Jubelo revelou a Simeão e Levi quem eram os dois sacerdotes que detinham o segredo, e a melhor maneira e lugar para abordá-los. Ambos foram apanhados, mas se recusaram a prover quaisquer detalhes, portanto, foram ambos mortos para proteger os conspiradores. Agora restava apenas uma opção desesperada: atacar o próprio rei.
Jubelo a esta altura estava aterrorizado, mas já tinha superado o ponto sem volta, portanto, guiou seus dois co-conspiradores ao Templo de Amon-Rá enquanto o sol se dirigia para o seu ponto mais alto. Um pouco mais tarde o rei emergiu da saída onde foi instado a entregar os segredos. Ele recusou e o primeiro golpe foi dado. Em questão de minutos, o rei Seqenenre estava caído ao chão do Templo em uma poça de sangue. Em fúria cega e frustração um dos irmãos atingiu o corpo mais duas vezes. Jubelo estava passando fisicamente mal de tanto medo. Todos os três sabiam que haviam ficado subitamente sós, sem um amigo sequer no mundo. Seriam caçados pelos tebanos, José não lhes estenderia nenhuma simpatia, e Apophis ficaria fulo de raiva pela perda definitiva dos segredos. Seu fracasso era verdadeiramente espetacular. Os segredos estavam perdidos para sempre e uma guerra sem quartel para vingar a Seqenenre certamente seria deflagrada por Kamose e Ahmose, os filhos do rei morto - uma guerra que expulsaria os hicsos para fora do Egito para
sempre. As paredes efetivamente estavam caindo por sobre suas cabeças! E quanto ao sacerdote traidor? Ele foi apanhado vários dias depois escondido no deserto fora de Tebas, no lugar que hoje chamamos de Vale dos Reis. Foi trazido de volta ao Templo e obrigado a explicar sua parte nessa traição, assim como a contar todos os detalhes do plano urdido por Apophis e seu vizir asiático, José. Ouvindo os detalhes, o filho de Seqenenre chamado Kamose sentiu-se ultrajado pelo perverso ato dos hicsos: mas ele também estava seriamente perturbado pelo fato de que não poderia
tornar-se rei: os segredos perdidos lhe tiravam toda a possibilidade de vir a ser Horus. Para ele e os que o apoiavam, era um desastre sem comparação possível.
Kamose reuniu um conselho dos mais velhos entre os sacerdotes sobreviventes e um deles, destinado a tornar-se o Alto Sacerdote, apresentou uma interessante análise da situação e uma solução brilhantíssima para o dilema. Ele notou que o Egito havia começado a existir milhares de anos antes, na idade dos deuses, e que a ascensão das Duas Terras havia sido criada através do assassinato de Osíris por seu irmão Set. A deusa Isis não havia desistido e havia feito a ressurreição do corpo desmembrado de Osíris para que ele pudesse ser pai de seu filho, o filho de deus chamado Horus. Horus era ele mesmo um deus que cresceu para a maturidade e combateu o perverso Set em uma magnífica batalha na qual Horusperdeu um olho e Set perdeu seus testículos. O jovem deus foi considerado como tendo vencido a batalha, mas nem por isso deixou de ser uma vitória indecisa, que gerou uma tensão crescente e permanente entre o bem e o mal.
O sábio sacerdote explicou que o Egito havia crescido em força após esta batalha, mas que as Duas
Terras haviam lentamente envelhecido e entrado em declínio. O poder do deus Set havia crescido com a chegada dos hicsos, que o adoravam assim como à serpente Apophis. Acabara de acontecer na terra, portanto, uma outra batalha entre o primeiro Horus e Set, mas dessa vez Set havia vencido e o Horus do momento havia perdido. Nessa batalha o rei Horus mais uma vez tivera seu olho ferido antes de morrer. A resposta era recordar-se da sabedoria de Isis e recusar-se à desistência apenas porque um deus havia sido assassinado.
Ele lentamente ergueu sua mão e apontou um dedo para o trêmulo jovem sacerdote, gritando: "Eis a manifestação de Set. Ele nos ajudará a derrotar o perverso".
O corpo de Seqenenre estava em péssimas condições depois de passar muitos dias em seu esconderijo, mas os embalsamadores conseguiram prepará-lo da maneira usual. Como parte de sua
punição Jubelo foi continuamente mergulhado em leite azedo e no calor do deserto a proteína animal em decomposição logo o fez feder, dando-lhe a marca específica do "perverso". Quando chegou a hora da cerimônia de Seqenenre/Osíris, simultaneamente com a de Kamose/Horus, tudo estava preparado, mas havia dois caixões, não apenas um.
O primeiro esquife antropóide estava esplêndido e literalmente preparado para um deus/rei docemente perfumado, o segundo era totalmente branco sem nenhuma inscrição.
O momento das cerimônias foi se aproximando, e o fedorento e semidelirante Jubelo foi trazido completamente nu à frente dos embalsamadores. Suas mãos foram presas ao lado de seu corpo e com um golpe preciso de uma faca os seus genitais foram cortados e jogados ao chão pelo próprio Kamose, que estava por tornar-se Horus.
O gemente Jubelo foi então enrolado em bandagens de mumificação dos pés para cima. Foi-lhe permitido colocar as mãos sobre a ferida que lhe causava tanta agonia, porque isso mostraria a todos os observadores o lugar exato do ferimento dessa criatura perversa. As bandagens finalmente chegaram à cabeça de Jubelo e os embalsamadores as apertaram firmemente sobre sua face até que ele estivesse completamente coberto. Assim que terminaram e ele foi colocado em seu caixão, Jubelo jogou a cabeça para trás tentando colocar sua traquéia reta e forçou sua boca a abrir-se em uma tentativa de respirar através das sufocantes bandagens.
Ele morreu alguns minutos depois que seu caixão foi selado. Jubelo pagou caro por sua traição.
O sábio, novo Alto-Sacerdote, havia dito a Kamose que segredos substitutos teriam que ser criados para tomar o lugar dos verdadeiros que haviam sido perdidos com a morte de seu pai.
Uma nova cerimônia de ressurreição real de uma morte figurativa foi estruturada para substituir o velho método, e novas palavras mágicas foram criadas para elevá-lo ao status de Horus.
A nova cerimônia contava a história da morte do último rei do primeiro Egito, que com o novo rei se tornou uma nação renascida. O corpo de Jubelo viajou para o Reino dos Mortos junto a Seqenenre, para que a batalha pudesse continuar - Set (na forma de Jubelo) sem seus testículos e o novo Osíris, exatamente como o primeiro Horus, sem seu olho direito. Os sacerdotes haviam organizado tudo para que
a batalha continuasse de onde havia parado no início dos tempos. A guerra estava longe de chegar a seu fim.
Kamose foi extremamente ofensivo a Apophis quando escolheu o nome real de "Wadj-kheper-re",
que significa ''Florescendo na Manifestação de Ra".
Em outras palavras, "você falhou e eu estou muito bem e de posse dos segredos reais".
Kamose foi reerguido de uma morte figurativa, e assim aconteceu com sua nação. O período que agora chamamos de Novo Reinado logo se iniciou e o Egito tornou-se mais uma vez uma nação cheia de orgulho.
A Evidência Física
A história que acabamos de contar é uma versão fictícia para expor nossa confiança naquilo que acreditamos tenha acontecido há tantos milhares de anos. Não obstante, as únicas partes que inserimos na história são os pequenos detalhes que juntam os fatos reais que desvendamos. Usamos a evidência bíblica para estabelecer o envolvimento de José e de seus irmãos, mas o jovem sacerdote, a quem denominamos Jubelo, chamou nossa atenção através de longas pesquisas em registros egípcios. Quase não acreditamos em nossa boa sorte quando demos com os restos mortais do jovem que tem sido um enigma para os egiptólogos nos últimos cem anos.
De todas as múmias encontradas no Egito, duas se destacaram para nós por serem pouco usuais. Seqenenre é único por ser o único rei que encontrou um fim violento, e um outro cadáver também se destacou por outras razões radicais. Buscando informação sobre todas as múmias registradas, ficamos imediatamente interessados nos detalhes dos estranhos restos mortais de um jovem que na vida não tivera mais que um metro e sessenta de altura. Fotografias dessa múmia desembrulhada eram fascinantes por causa da aparência de extrema agonia em sua face, assim como os detalhes de seu enterramento, que não tinham precedentes. O corpo não havia sido embalsamado, pois não havia nenhuma incisão e os órgãos internos estavam todos em seus devidos lugares. Apesar do indivíduo não ter sido mumificado no sentido exato da palavra, havia sido enrolado em bandagens como de costume. Estranhamente, nenhuma tentativa havia sido feita para corrigir o ângulo da cabeça nem compor os traços da face, e o efeito dessa múmia é o de um homem que dá um longo e terrível grito.
Os braços não estão ao lado do corpo nem cruzados no peito do jeito de sempre, mas esticados para
baixo com as mãos cobrindo, ainda que não tocando, a região púbica. Debaixo dessas mãos em concha há um espaço onde os genitais deveriam estar: esse homem foi castrado.
Seu cabelo empastado está coberto de um material com a aparência do queijo, o que nos tocou
como sendo o resultado que se espera de sucessivos mergulhos em leite azedo, com o objetivo de fazê-lo cheirar mal: os demônios das trevas tinham um sentido de olfato muito apurado, e o reconheceriam como um dos seus. Os dentes estão em boas condições e as orelhas foram furadas, e esses detalhes indicam nascimento em classe superior. A múmia foi achada em um caixão de cedro pintado de branco, sem nenhuma inscrição, tornando a identificação impossível, mas os peritos crêem que ele tenha sido um nobre ou um membro da classe sacerdotal.
A datação neste caso é muito difícil, mas se considera que seja da Décima Oitava Dinastia, que se iniciou logo depois do reinado de Seqenenre Tao. Uma pista importante que antes não foi notada está nas rugas formadas pela pele da face. São muito estranhas, mas também estão presentes em uma outra múmia
- a de Ahmose- Inhapi, a viúva de Seqenenre! Essas rugas são causadas por bandagens muito apertadas, e
essa característica sugere que a mesma pessoa de mãos muito pesadas executou os dois enrolamentos.
Nossos diagramas mostram como o ângulo dessas rugas fortemente sugere que o jovem sacerdote estava vivo quando foi enrolado e enterrado. Esse corpo não identificado não gerou grande interesse entre os egiptólogos, que tendem naturalmente a se interessar mais pelas múmias dos famosos, mas faz tempo que se aceita que essa múmia mostra todos os sinais de que estava viva quando de seu enterro.
A datação oficial estimada do início do Novo reinado era inacreditavelmente próxima de nosso momento-alvo, e começamos a pensar se a jovem múmia não teria sido descoberta na área de Tebas, tendo, portanto, uma conexão com o nosso rei assassinado. Logo descobrimos que foi encontrada por Emil Brugsch em 1881, não apenas em Tebas, mas na sepultura real e, Deir al Bahri. .. ao lado de Seqenenre Tao! Essa não era a tumba original de nenhum dos dois, mas é bastante provável que tenham sido mudados da mesma sepultura ao mesmo tempo em data posterior.
As possibilidades de coincidência iam se evaporando, e nós começávamos a ter certeza de que
havíamos não apenas encontrado Hiram Abiff, mas também descoberto as circunstâncias de sua morte e identificado um dos assassinos, três mil e quinhentos anos depois dos eventos. Sentimo-nos como os detetives devem se sentir quando resolvem um caso difícil, e comemoramos com muito champagne nessa noite.
O desafortunado Jubelo, no entanto, nunca conseguiu escapar da presença de sua vitima.
O jovem sacerdote está no Museu do Cairo, número de catálogo 61023 junto com Seqenenre Tao,
número de catálogo 61051.

Fim

Este trabalho foi copiado do livro

A CHAVE DE HIRAM
FARAÓS, FRANCO-MAÇONS
E A DESCOBERTA DOS MANUSCRITOS SECRETOS DE JESUS
CHRISTOPHER KNIGHT & ROBERT LOMAS
TRADUÇÃO E NOTAS
Z.RODRIX
EDITORA LANDMARK
São Paulo, Brasil

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Do Meio Dia à Meia Noite

“Do Meio Dia à Meia Noite”

Zoroastro, também conhecido como Zaratustra, foi um sábio árabe nascido no século VII a.C., cujo pensamento influenciou religiões monoteístas tais como; o Islamismo, o Judaísmo e até mesmo, o Cristianismo. Os livros do Zoroastrismo (ou Masdeísmo) relatam suas proezas, desde mais tenra idade. Dizem que quando nasceu, ao contrário de chorar, ele alegremente e calorosamente riu para os presentes. Para alguns dos presentes, era sinal que havia chegado um ser de Luz; para outros um demônio, e por causa disto, no seu primeiro dia de vida, foi colocado em uma fogueira, porém, ele não se queimou. Depois foi colocado à frente de uma manada de mil bois, protegido por um destes que sobre ele se colocou, nada sofreu.
Finalmente, colocaram-no dentro de uma toca de lobos para que fosse devorado, mas, uma loba cuidou dele até que sua mãe viesse buscá-lo. O bebê cresceu e sempre foi um ser introspectivo, caminhava pelas redondezas de sua vila a indagar: Quem faz a Lua crescer ou diminuir? Quem criou o Sol e as Estrelas? Quem colocou nos homens o sentimento de Bondade e Justiça? Aos 15 anos de idade, já era um exemplo, pelo seu conhecimento dos preceitos religiosos de sua época, e, notadamente um ser bondoso para com os homens e a natureza. Alguns relatos, dizem que aos 20 anos de idade, ele se afastou de sua comunidade e, por dez anos viveu em contemplação e meditação. Aos 30 anos de idade, lhe apareceu uma divindade de nome Vohu Mano (“Boa Mente”), que o levou ao encontro de Sete seres míticos. Então, lhe foi dito: “Zoroastro, se quiser, você pode encontrar dentro de si, as respostas para todas as perguntas que lhe angustiam”,dando-lhe ainda, o fardo de ser o profeta que deveria anunciar a boa nova ao povo. “- Porque eu? Não sou poderoso e nem tenho recursos!” Questionou Zoroastro. Em uníssono, os seres responderam: “-Você tem tudo de que precisa, o que todos igualmente têm: Bons pensamentos, boas palavras e boas ações”. Depois desta revelação, ele se propôs a difundir o que seria, não apenas, mais uma religião, mas, um sistema religioso-filosófico monoteísta. Este sistema, não valorizava somente o homem como redentor de si mesmo; era contra o sacrifício de animais e valorizava o trabalho como um ato sagrado. “O que mais vale em um trabalho, é a dedicação do trabalhador”. “O que lavra a terra com dedicação, tem mais mérito religioso, do que poderia obter com mil orações, sem nada fazer”.
No começo de sua jornada, foi mais uma voz a clamar no deserto. Com o passar do tempo, seus conhecimentos se espalharam por toda a Pérsia, chegando a se torna religião oficial. Muitos foram iniciados em seus augustos mistérios. O Livro Sagrado do Zoroastrismo (ou Masdeísmo) chama-se Avesta (Zend-Avesta), e a moral está na frase: “Aja,como gostaria que, agissem contigo”. Zoroastro morreu assassinado no Templo, diante do Altar do Fogo Sagrado. Agora, está na hora da pergunta: - Mas o que isso tem a ver com Maçonaria? Zoroastro reunia seus seguidores, em reuniões secretas dentro do Templo... DO MEIO DIA À MEIA NOITE. E temos IIr que brincam dizendo; o Ir2º Vig não sabe olhar as horas! Volto a repetir: Na Maçonaria, tudo existe com um propósito maior. Esta pequena frase é o fio da meada, para aqueles que estudando, aprenderão que, “Deus está sempre à tua porta, na pessoa dos teus Irmãos de todo o Universo”. Igual a esta mensagem subliminar, existem outras mais em nossos Rituais , que os ritualistas colocaram para que possamos pesquisar sobre seus autores e suas obras. Meus IIr o objetivo deste pequeno artigo, é despertar a vontade de conhecer um pouco mais sobre o assunto, fazer uma pesquisa e quando ela estiver pronta, levar para sua Loja, enriquecendo nosso Quarto de Hora de Estudos. Lembre-se, que todos nós, independente do Grau ou do Cargo, somos responsáveis pela qualidade das Sessões Maçônicas.

Sérgio Quirino Guimarães
ARLS Presidente Roosevelt 025 - Grande Loja
Belo Horizonte – Minas Gerais

Pitagoras e sua Filosofia

O filósofo grego Pitágoras, que deu seu nome a uma ordem de pensadores, religiosos e cientistas, nasceu na ilha de Samos no ano de 582 a.C. A lenda nos informa que ele viajou bastante e que, com certeza, teve contato com as idéias nativas do Egito, da Ásia Menor, da Índia e da China. A parte mais importante de sua vida começou com a sua chegada a Crotona, uma colônia Dórica do sul da Itália, então chamada Magna Grécia, por volta de 529 a.C.

De acordo com a tradição, Pitágoras foi expulso da ilha de Samos, no mar Egeu, pela tirania de Polycrates. Em Crotona ele se tornou o centro de uma organização, largamente difundida, que era, em sua origem, uma irmandade ou uma associação voltada muito mais para a reforma moral da sociedade do que uma escola de filosofia.

A irmandade Pitagórica tinha muito em comum com as comunidades Órficas que buscavam, através de práticas rituais e de abstinências, purificar o espírito dos crentes e permitir que eles se libertassem da “roda dos nascimentos”. Embora o seu objetivo inicial tenha sido muito mais fundar uma ordem religiosa do que um partido político, a Escola de Pitágoras apoiou ativamente os governos aristocratas.

A verdade é que esta Escola chegou a exercer o controle político de várias colônias da Grécia Ocidental, principalmente as existentes no sul da Itália. Foi também a sua influência política que levou ao desmembramento e à dissolução da Escola de Pitágoras. A primeira reação contra os Pitagóricos foi liderada por Cylon e provocou a transferência de Pitágoras de Crotona para a cidade de Metaponto, onde residiu até à sua morte, no final do séc. VI ou no início do séc. V a.C.

Na Magna Grécia, isto é, nas colônias fundadas pelos gregos na Itália, a Ordem Pitagórica se manteve poderosa até à metade do séc. V a.C. A partir daí foi violentamente perseguida, e todos os seus templos foram saqueados e incendiados. Os Pitagóricos remanescentes se refugiaram no exterior: Lysis, por exemplo, foi para Tebas, na Beócia, onde se tornou instrutor de Epaminondas; Filolaus, que segundo a tradição, foi o primeiro a escrever sobre o sistema Pitagórico, também se refugiou em Tebas.

O próprio Filolaus, junto com mais alguns adeptos de Pitágoras, retornou mais tarde à Itália, para a cidade de Tarento, que se tornou a sede da Escola Pitagórica. Entre eles estava Archytas, amigo de Platão, figura proeminente da Escola, não só como filósofo como também como homem de estado, na primeira metade do séc. IV a.C. No entanto, já no final deste século, os Pitagóricos tinham desaparecido, como Escola Filosófica.

A ESCOLA PITAGÓRICA
Parece que, por volta da metade do séc. V a.C., houve uma divisão dentro da Escola, De um lado, estavam os “matemáticos”, representados por nomes do peso de Archytas e Aristoxenus, que estavam interessados nos estudos científicos, especialmente em matemática e na teoria musical; de outro lado estavam os membros mais conservadores da Escola, que se concentravam nos conceitos morais e religiosos, e que eram chamados de akousmatikoi (plural de akousmata, os adeptos das tradições orais). Estes elementos – religiosos e científicos – estavam já presentes nos ensinamentos de Pitágoras.

As doutrinas ensinadas por Pitágoras são as seguintes:

1. - Em primeiro lugar, e acima de tudo, estava a crença de Pitágoras na existência da alma. Ele também acreditava na transmigração das almas dos indivíduos, mesmo entre diferentes espécies. Esta transmigração poderia ocorrer em seres mais ou menos evoluídos. Se um indivíduo tivesse uma vida virtuosa, o seu espírito poderia inclusive se libertar da carne, isto é, deixaria de reencarnar. Este conceito filosófico foi atribuído a Pitágoras por Platão, em sua obra Fédon (que relata os momentos que antecederam a morte de Sócrates pela ingestão de cicuta). Não se pode deixar de ressaltar a importância deste conceito na história das religiões.

2. - Levar uma vida virtuosa consistia em obedecer a certos preceitos, muitos deles vistos hoje como tabus primitivos, como, por exemplo, não comer feijão ou não remexer no fogo com um pedaço de ferro. Estritamente morais eram as três perguntas que cada um devia se fazer ao final do dia, e que eram: Em que é que eu falhei hoje? O que de bom eu deveria ter feito hoje? O que é que eu não fiz hoje e deveria ter feito? Um dos principais meios externos que ajudavam a purificar o espírito era a música.

3. - A fascinação da Escola pelos números deve-se ao seu fundador. A maior descoberta de Pitágoras foi a dependência dos intervalos musicais de certas razões aritméticas existentes entre cordas de comprimentos diferentes, igualmente esticadas. Por exemplo, uma corda com o dobro do comprimento de outra emite a mesma nota musical, mas uma oitava acima, isto é, mais aguda.

Tal fato contribuiu decisivamente para cristalizar a idéia de que “todas as coisas são números, ou podem ser representadas por números”. Este princípio foi a pedra de toque da filosofia de Pitágoras. Em sua obra Metafísica, Aristóteles afirma que os números representavam na filosofia de Pitágoras o que os quatro elementos – Terra/Ar/Fogo/Água representaram no simbolismo de outros sistemas religiosos. De acordo com este princípio, todo o universo poderia ser reduzido a uma ”escala musical e a um número”. Assim, coisas como a razão, a justiça e o casamento, poderiam ser identificadas com diferentes números. Os próprios números, sendo ímpares e pares, ou limitados e ilimitados, de acordo com Aristóteles, se constituíam na primeira definição das noções de forma e de matéria.

Os números um e dois encabeçavam a lista dos dez primeiros pares de opostos fundamentais, dos quais os oito pares seguintes eram “um” e “muitos”, “direita e esquerda”, “masculino e feminino”, “repouso e movimento”, “reto e curvo”, “luz e escuridão”, “bom e mau” e “quadrado e oblongo”. Esta era a filosofia do dualismo metafísico e moral, através da qual se chegou ao princípio que via o universo como a harmonia dos opostos, no qual “o um” gerou toda a serie de números existentes.

Assim, a música e a crença no paraíso estelar, (originalmente associados à Astrologia da Babilônia) são os pontos de união entre o conteúdo religioso da filosofia de Pitágoras com os estudos matemáticos e científicos realizados mais tarde pela ala científica de sua Escola. O primeiro a apresentar um sistema compreensivo foi Filolaus, um de seus discípulos.

A ARITMÉTICA PITAGÓRICA
Para Pitágoras a Divindade, ou Logos, era o Centro da Unidade e da Harmonia. Ele ensinava que a Unidade, sendo indivisível, não é um número. Esta é a razão porque se exigia do candidato à admissão na Escola Pitagórica a condição de já haver estudado Aritmética, Astronomia, Geometria e Música, consideradas as quatro divisões da Matemática. Explica-se também assim porque os Pitagóricos afirmavam que a doutrina dos números, a mais importante do Esoterismo, fora revelada ao Homem pela Divindade, e que o Mundo passara do Caos à Ordem pela ação do Som e da Harmonia. A unidade ou 1 (que significava mais do que um número) era identificada por um ponto, o 2 por uma linha, o três por uma superfície e o quatro por um sólido. A Tetraktys, pela qual os Pitagóricos passaram a jurar, era uma figura do tipo abaixo:

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representando o número triangular 10 e mostrando sua composição como sendo 1 + 2 + 3 + 4 = 10. Adicionando-se uma fileira de cinco pontos teremos o próximo número triangular de lado cinco, e assim por diante. Mostrando que a soma de qualquer série de números naturais que comece pelo número 1 é um número triangular. A soma dos números de qualquer série numérica composta por números ímpares e que comece por 2 é um número quadrado. E a soma dos números de qualquer série numérica de números pares que comece pelo número 2 é um número oblongo, ou retangular.

Este é o princípio matemático que levou à 47ª Proposição de Euclides, o matemático grego que divulgou o Teorema de Pitágoras, pelo qual o quadrado da hipotenusa de um triângulo retângulo é igual à soma dos quadrados dos dois outros lados, ou catetos. A demonstração deste teorema é a Jóia do Ex-Venerável mais recente de uma Loja Maçônica, em homenagem a Pitágoras, e que simboliza a doutrina científica e esotérica de sua Escola de Filosofia. O mesmo raciocínio usado na formulação do teorema acima, quando o triângulo retângulo é isósceles, (com catetos ou lados iguais) levou os Pitagóricos a descobrir os números irracionais, como, por exemplo, a raiz do número 2, que é igual a 1,4142,,,, (dízima periódica).

A GEOMETRIA PITAGÓRICA
Em Geometria não se pode obter uma figura totalmente perfeita, nem com uma, nem com duas linhas retas. Mas três linhas retas em conjunção produzem um triângulo, a figura absolutamente perfeita. Por isso é que o triângulo sempre simbolizou o Eterno – a primeira perfeição, o Grande Arquiteto do Universo. A palavra que designa a Divindade principia, em todas as línguas latinas, por um D, e em grego por um “delta”, ou triângulo, cujos lados representam a natureza divina. No centro do triângulo está a letra Yod , inicial de Jehovah – o Criador, expresso nos idiomas teuto-saxônicos pela letra G, inicial de God, Got ou Gottam, cujo significado filosófico é geração.

Numerosas – e valiosas – foram as contribuições da Escola de Pitágoras no campo da Geometria. Assim, por exemplo, a demonstração de que a soma dos ângulos internos de um triângulo é igual a dois ângulos retos, ou 180 graus. Também formularam a teoria das proporções e descobriram as médias aritmética, geométrica e harmônica. Foi ainda Pitágoras quem descobriu a construção geométrica dos cinco sólidos regulares, isto é, o tetraedro ou pirâmide de quatro lados, o octaedro, o dodecaedro e o icosaedro. A construção do dodecaedro requer a construção de um pentágono regular, também conhecida dos Pitagóricos, que usavam o Pentagrama ou Estrela Pentagonal ou Flamígera, como símbolo de reconhecimento entre os seus membros.

Em resumo, a Geometria Pitagórica cobriu todos os assuntos da obra de Euclides, que compilou e registrou todo o conhecimento existente nesta área, na antiga Grécia.

A ASTRONOMIA PITAGÓRICA
Pitágoras foi o primeiro a afirmar que a Terra e o Universo tinham forma esférica. Ele também anteviu que o Sol, a Lua e os Planetas então conhecidos possuíam um movimento de translação, independente do movimento de rotação diário. A Escola de Pitágoras desenvolveu também um sistema astronômico, conhecido como sistema Pitagórico. A última versão deste sistema, atribuída aos discípulos Filolau e Hicetas de Syracusa, deslocava a Terra do centro do Universo, e fez dela um planeta do mesmo modo que os planetas então conhecidos, que giravam em torno do fogo central – o Sol. Este sistema, elaborado cerca de 400 a.C., antecipou em cerca de 2.000 anos os mesmos princípios defendidos por Galileu Galilei, pelos quais foi condenado pela Santa Inquisição. Galileu demonstrou a base científica do sistema, a partir da qual Copérnico e Kepler iriam comprovar que era o Sol e não a Terra o centro da Via Láctea – a nossa Galáxia.

A MÚSICA PITAGÓRICA
Pitágoras não só utilizava a música para criar uma inefável aura de mistério sobre si mesmo, como também para desenvolver a união na sua Escola. A música instruía os discípulos e purificava suas faculdades psíquicas. Na educação, a música era vista como disciplina moral porque atuava como freio à agressividade do ser humano. Pitágoras considerava a música o elo de ligação entre o homem e o cosmos. O Cosmos era para ele uma vasta razão harmônica que, por sua vez, se constituía de razões menores, cujo conjunto formava a harmonia cósmica, ou harmonia das esferas, que só ele conseguia ouvir.
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Pitágoras, avatar do deus Apolo, compunha e tocava para seus discípulos a sua lira de sete cordas. Deste modo ele refreava paixões como a angústia, a raiva, o ciúme, anseios, a preguiça e a impetuosidade. A música era uma terapia que ele aplicava não só para tranqüilizar as mentes inquietas, mas também para curar os doentes de seus males físicos.

Pitágoras foi o descobridor dos fundamentos matemáticos das consonâncias musicais. A partir daí, ele visualizou uma relação mística entre a aritmética, a geometria, a música e a astronomia, ou seja, havia uma relação que ligava os números às formas, aos sons e aos corpos celestes. A Tetraktys era o símbolo da música cósmica, e Pitágoras, como o deus da Tetraktys, era a única pessoa que podia ouvi-la. A teoria da música cósmica, ou harmonia das esferas foi descrita por Platão, no Timeu. Filolau, outro notável discípulo de Pitágoras também faz descrição minuciosa da teoria que resulta na música cósmica e na harmonia das esferas (ou planetas).

A HERANÇA DE PITÁGORAS
A história posterior da filosofia de Pitágoras se confunde com a da Escola de Platão, discípulo de Sócrates e mestre de Aristóteles, e que foi também ardente admirador e discípulo de Pitágoras. Platão herdou, de um lado, as doutrinas de seu mestre e, de outro, bebeu a sua sabedoria nas mesmas fontes do filósofo de Samos. Segundo Amônio Sacas, toda a Religião-Sabedoria estava contida nos Livros de Thot (Hermes), onde Pitágoras e Platão beberam os seus conhecimentos e grande parte de sua filosofia.

Desde os primeiros séculos da era cristã que é comprovada a existência, em Roma, das práticas e doutrinas religiosas de Pitágoras, principalmente as relacionadas com a imortalidade da alma. Pitágoras disputava então, com outras religiões, um lugar predominante no panteão da Roma Imperial. A comprová-lo as capelas pitagóricas descobertas pela arqueologia, nas quais os iniciados aprendiam os mistérios de Pitágoras, e onde eram introduzidos no culto de Apolo.
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Os afrescos encontrados no sub-solo da Porta Maggiore, em Roma, mostram temas Pitagóricos. O nacionalismo romano também está ligado a Pitágoras através da obra Metamorfoses, de Ovídio, que nela relatou a teoria da reencarnação, defendida pelo filósofo de Samos. Os discípulos diretos de Platão também retornaram aos princípios Pitagóricos; e os neo-Platônicos, com Jâmblico, no séc. IV d.C. também os adotaram, juntamente com os mais recentes escritos Pitagóricos, isto é, os Hinos Órficos. Do séc. I d.C. ao séc. VI d.C. a doutrina de Pitágoras influenciou grandes filósofos que escreveram e divulgaram a sua filosofia. Alguns deles foram Apolônio de Tiana, Plotino, Amélio e Porfírio.

Depois que os cristãos conquistaram, no séc. IV d.C. o controle do Estado, os Pitagóricos tornaram-se, gradualmente, uma minoria perseguida. No entanto, as idéias de Pitágoras continuaram a ser pregadas na antiga escola de Platão, a Academia de Atenas, e em Alexandria, até que no séc. VI d.C. Justiniano, imperador do Oriente, fechou a Academia e proibiu a pregação da filosofia e das doutrinas consideradas pagãs pelo catolicismo. A partir desta época prevaleceu a era do obscurantismo da Idade Média. Mas as doutrinas de Pitágoras foram abertamente pregadas por um período de 1.200 anos, que se estende do séc. VI a.C. ao sec. VI d.C.

Apesar de perseguido pela religião oficial Pitágoras foi, para grandes figuras do Catolicismo, como Santo Ambrósio, uma figura de referência por ter sido visto como intermediário entre Moisés e Platão, No séc. XVI, de acordo como o interesse do autor, Pitágoras era apresentado como poeta, como mágico, como autor da Cabala, como matemático, ou como defensor da vida contemplativa. Rafael, famoso pintor italiano, retratou Pitágoras como um homem idoso, de longas barbas, entre filósofos, no quadro “Escola de Atenas”.

Embora remotamente, não podemos deixar de registrar a existência de pontos comuns entre a filosofia de Pitágoras e o sistema Positivista de August Comte. Pitágoras, racionalista, procurou explicar a cosmogonia universal através da ciência. Comte trilhou caminho semelhante. Antes de tudo, Pitágoras buscou o conhecimento da Verdade e só por isso já deve ser reverenciado por toda a Humanidade


BIBLIOGRAFIA
Pitágoras – Amante da Sabedoria - Ward Rutherford - Editora Mercúrio - São Paulo
Pitágoras – Uma Vida - Peter Gorman - Editora Pensamento - São Paulo
A Doutrina Secreta -Volumes II e V - H.P.Blavatsky - Editora Pensamento - São Paulo
Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia – Nicola Aslan – Artenova - Rio
A Simbólica Maçônica - Jules Boucher - Editora Pensamento - São Paulo
Maçonnerie Occulte et L’Initiation Hermétique – J.M.Ragon - Cahiers Astrologiques - Paris
Diálogos - Platão - Abril Cultural - São Paulo


ANTÓNIO ROCHA FADISTA
M.'.I.'., Loja Cayrú 762 GOERJ / GOB - Brasil