Pitágoras e o Pitagorismo
Se há um pensador que teve enorme influência no pensamento ocidental antigo e prossegue nos dias atuais, esse é Pitágoras. Classifica-se entre os pré-socráticos, logo em seguida aos jônios ou milésios, que têm como expoentes as figuras Tales de Mileto e Anaximandro, entre os fins do século VII A.C.
Pitágoras nasceu em Samos lá pelo século V a.C., tendo como pai um comerciante, cujo nome ignora-se, mas sua mãe foi Pártenis. Consta que o jovem casal fora ao oráculo de Delfos para saber o futuro do filho ao nascer e a pitonisa prometera-lhes: "Um filho que seria útil a todos os homens e em todos os tempos". Segundo o oráculo, os pais levaram o filho para ser batizado, já com um ano de idade ao Vale de Sidon. Ao ver o menino, disse-lhes o hierofonte de Adonai: "Oh mulher jônia, o teu filho será grande pela sabedoria, mas lembra-te de que, os gregos ainda possuem a ciência dos deuses, a ciência de Deus, só se encontra no Egito".
Dedicaram-se com esmero à educação do filho. Aos dezoito anos já adquirira os conhecimentos de Hermódamas de Samos; aos vinte os de Ferecides de Sírios, bem como os de Tales e Anaximandro de Mileto. Dizem que viajou pelo Egito, Babilônia e Índia. Zeler pensa que tudo é fantasia dos pósteros, mas Chaignet entende que a viagem ao Egito não se pode pôr em dúvidas. Edouard Schuré, na obra "Os Grandes Iniciados", confirma a presença de Pitágoras entre os Egípcios e Babilônios. Até dá uma explicação muito plausível para isso. Na mesma época da ausência do filósofo de Samos, houve a invasão do Egito pelas hordas de Cambises. Pitágoras, que convivia com os sacerdotes egípcios, com eles fora levado à Babilônia. Lá, segundo Schrá, travou conhecimentos com a civilização caldaica, com os ensinamentos de Zoroastro, dos magos persas e da elite judaica, então sob domínio persa.
Essas peregrinações do mestre duraram trinta e dois anos, quando regressou a Samos, sua terra natal. Em Delfos travou contato com a pitonisa Teocléia, a qual imediatamente nele descobriu um iluminado, com sabedoria maior do que a de todos os homens. Embarcou de Samos para Sibaris, de onde partiu à pé até Crótona, na Magna Grácia. Lá fundou sua escola e difundiu a seus alunos os seus ensinamentos. Casou-se aos sessenta anos com Teano e teve os filhos Arimnesto e Télanges e a filha Damo. Instigados por um certo Cílo, que não fora admitido entre os alunos do mestre, os ciclonianos massacraram os pitagóricos. Para uns, faleceu Pitágoras nesse massacre aos noventa anos; para outros, ele escapou e morreu tranqüilamente em idade avançadíssima na cidade de Metaponto.
Até aqui falamos do homem. Agora deveremos traçar com linhas muito sucintas o pitagorismo Os iniciados não tinham, a princípio, contato com o mestre, que ficava atrás de uma cortina, limitando-se a ouvir (acumásticos). Só passados três anos, começava a ensinar matemática. Pitágoras foi a primeira pessoa que definiu a filosofia, como amigo do saber. Dominou todos os conhecimentos humanos. Fantástico, descobridor de que os pitagóricos diziam que a terra girava em torno de um centro de fogo (sol), e de que os dias e noites eram o produto da revolução sobre si mesma, fato muitos séculos posteriores confirmados por Galileu.
Dizia Pitágoras que tudo são números. O um representava o Uno, a unidade, o número perfeito, ou seja, Deus. Para nós, a numeração significa uma sucessão enquanto, aos pitagóricos, por exemplo, o número um correspondia ao círculo, por isso, o número oito era o produto desse círculo dividido em oito partes iguais. Descobriram que a soma dos números ímpares sempre será um quadrado. Quem quiser confrontar, verá que invariavelmente a soma dos números ímpares resultará número quadrado.
Para Pitágoras, na música estava inserto o número, isto é, o compasso. Afirmava que a harmonia do Cosmos, com os seus astros a girar, formava a sinfonia das esferas. A influência do pitagorismo pode-se descobrir nos templos gregos, que são uma verdadeira música petrificada. Eis que, os intervalos que separam as colunas do Pártenon e Propilenes, têm números rigorosamente dentro das escalas pitagóricas.
Descobriram o triângulo sagrado, que mede 3 a 4 dos lados e hipotenusa 5, ou seja, a propriedade dos triângulos retângulos de terem na hipotenusa ao quadrado o mesmo resultado da soma dos quadrados dos catetos. Sobre números, fiquemos onde estamos.
Pitágoras dizia relembrar-se de todas as vidas pretéritas pelas quais teria passado a sua alma (a metempsicose). Qual seja: a alma é imortal, deixa um corpo e ingressa em outro. Afirmava que participou da guerra de Tróia e, ao visitar o Templo da Juno, na cidade de Argos, ali estava um escudo. Logo que o viu recordou-se de tê-lo usado no seu braço esquerdo. Cita Ovídio, nas Metamorfoses, quanto a Pitágoras, estas palavras: "O sopro vital erra de cá para lá e ocupa o corpo que lhe apraz: passa do corpo dos animais para o do homem e de nosso corpo passa para os animais sem nada perder. Tudo se transforma, nada se perde"
Mais de vinte séculos depois, o físico Lavoisier lança o seu princípio de que "nada se destrói, tudo se transforma". Em razão dessa possibilidade de imigração das almas dos homens aos animais, os pitagóricos não comiam carne. Platão usa o estudo da imortalidade da alma em dois de seus célebres diálogos: Timeu e Mênon. Neste último, diz-se como fizera Pitágoras de que a virtude poderá ser ensinada.
A doutrina pitagórica era ensinada em templos. Vestiam os pitagóricos túnicas brancas com uma faixa dourada na cabeça. Viviam com os bens em comum e eram muito respeitados em Crótona pelas suas virtudes e comportamento. Chamavam-se os esotéricos (os de dentro), contrapondo-se aos exotéricos (os de fora).
Para alguns, somente Arquipo e Lysis sobreviveram ao massacre do templo; para outros, igualmente Pitágoras. A ordem com outro sistema de funcionamento viveu por mais duzentos e cinqüenta anos. Mas as idéias e as tradições do mestre perduram até nossos dias.
Os ensinamentos de Pitágoras chegaram até nós através de Filolau e Éurito, ambos de Crótona, sul da Grande Grécia. Após a destruição do templo, os manuscritos de Pitágoras, todos escritos cifrados, restaram à sua filha Damo que, apesar de sua grande miséria, não os vende por preço algum. Chegaram até Filolau, e, segundo consta, este vendeu-os a Dion, filho de Dionísio, o antigo, de Siracusa. Quem leu a carta VII, de Platão, sabe que o filósofo grego fora receptor de Dionísio, destarte, deve ter nessa ocasião conhecido os manuscritos e para alguns até tê-los comprado, porque os ensinamentos pitagóricos estão muito claros nos diálogos Timeu e Ménom. De um modo muito resumido estão traduzidos a pessoa de Pitágoras e o pitagorismo. Alguns aforismos pitagóricos para os colecionadores:
"Ajuda teus semelhantes a levantar sua carga, mas não a carregues".
"O que fala semeia; o que escuta, colhe".
"Com ordem e com tempo encontra-se o segredo de tudo e de tudo fazer bem".
"Pensem o que quiserem de ti, faze aquilo que te parece justo".
"Educai as crianças e não será preciso punir os homens".
(João Tavares de Lima)
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