Pelicanos de Balandrau.

"Que cada um se esforce individualmente e de acordo com as possibilidades de sua inteligência; mas que cuide de não censurar os demais, seja porque ele não os entende ou porque eles não o entendem, já que sempre ocorre um dos casos, e freqüentemente ambos de uma só vez. Toda opinião sincera merece por tal razão ser respeitada, ainda que possa haver discordância em seus méritos. A verdadeira liberdade de pensamento mede-se pela liberdade que cada indivíduo sabe conceder aos demais" PEDRO DONIDA

sábado, 3 de janeiro de 2009

Irmaos de Verdade


A palavra irmão, tal como se encontra no dicionário, significa pessoa que descende de um ou dos dois pais comuns. Essa definição baseada na origem biológica da pessoa, embora bastante simples e precisa não é suficiente para definir a palavra irmão no sentido mais amplo do termo.

Muitas religiões, notadamente os evangélicos no Brasil, utilizam o termo irmão para definir aquele que professa a mesma religião que a sua, esse sentido deriva da crença que todos somos filhos de um único Deus e, portanto a humanidade formaria, segundo esse entendimento, uma grande família, sendo todos irmãos. É sem dúvida uma bela e filosófica visão e talvez seja um fim a ser alcançado.

Nos Estados Unidos da América, os índios Sioux, tinham uma tradição que era a seguinte: todo menino nascido na tribo, durante os primeiros meses era amamentado por todas as mulheres da tribo, dessa forma esse menino ao tornar-se um guerreiro, considerava todas as mulheres da tribo como suas mães e todos os velhos como seus avós, destarte todos os outros guerreiros eram seus irmãos e estando em batalha, cada um cuidaria da sua vida e da vida de seus irmãos, sendo esse um sentimento tão forte que jamais um irmão seria abandonado no campo de batalha, se tivessem que morrer morriam juntos, irmãos na vida e na morte.

Na Ordem temos o costume de tratar-nos como irmãos, demonstrando dessa forma o caráter fraternal de nossa organização. Quando um profano recebe a luz em um templo, durante o ritual de iniciação, a primeira coisa que ele vê são seus irmãos armados com espadas, jurando protege-lo sempre que for preciso.
A partir desse momento todos que a ele se referem o tratam por irmão, os filhos de seus irmãos passam a tratá-lo como tio e as esposas de seus irmãos passam a ser suas cunhadas. Forma-se nesse momento um elo firme entre o novo membro da ordem e a família maçônica.

É difícil precisar, no entanto, como esse vinculo se cria e se mantém. Porque? ao sermos reconhecidos como Pedreiros o outro lado prontamente abre um sorriso amigo e te abraça, como se já te conhecesse de toda a vida. Que força é essa que nos une e faz com que homens de diferentes, raças, credos, profissões e classes sociais, tenham um sentimento de irmandade mais forte entre eles, que entre irmãos de sangue?

A Ordem que passou por várias fases em sua existência desde a Ordem operativa até as atuais Lojas Simbólicas, foi refinando a maneira pela qual seus membros são escolhidos e convidados para integrar nossas colunas, o possível candidato sem saber está sendo observado em seus atos e na forma de conduta na vida profana, sendo que ao ser formalmente convidado, parte de sua avaliação já foi concluída, bastando agora cumprir os regulamentos da respectiva potência da Ordem, para levar a cabo o ingresso do novo membro.

Talvez devido ao fato que todo o Irmao sabe dos rigores dessa seleção, em que pese o fato de que algumas vezes cometemos erros, iniciando irmãos que nem de longe mereceriam essa honra, nós temos a tendência a confiar em um irmão porque sabemos que ele é livre e de bons costumes.
Aquele que ao apor sua assinatura em uma folha qualquer acrescentar os três pontinhos deve saber que está dizendo ao mundo, “Sou Livre e de Bons Costumes”. E como tal será cobrado em suas ações e atitudes tanto dentro dos templos como no mundo profano.

Creio que muitos irmãos adentram à nossa ordem sem a devida reflexão da responsabilidade que isso lhes impões, repetem os juramentos sem entender a verdadeira abrangência de suas palavras, o fazem por que isso faz parte do ritual, da mesma forma que pessoas que jamais freqüentam a igreja se casam e juram amor eterno e fidelidade diante do sacerdote sem, no entanto ter a menor intenção de cumprir esse juramento.

È compreensível que muitos irmãos entrem na Ordem sem o devido conhecimento da mesma, até porque esse conhecimento é pouco divulgado e muitas vezes os padrinhos e aqueles que fazem as sindicâncias não esclarecem o profano devidamente sobre as responsabilidades que estará assumindo. O que não é aceitável é que depois de ingressar e conhecer nossas normas e formas de conduta exigidas o irmão continue agindo como antes do ingresso, ou seja, o irmão transforma-se naquilo que costumamos chamar de “Profano de Avental”, é aquele irmão que embora imbuído de boas intenções não permeou seu espírito com os ensinamentos da Maçonaria e mesmo que permaneça na Ordem por toda a vida jamais será um Maçom no mais completo sentido da palavra.
Nossa ordem necessita de irmãos que tenham entre si aquele sentimento de fraternidade e solidariedade, tal qual os guerreiros Sioux, que sendo filhos genéticos de pais diferentes se sentem irmãos, porque participam de algo que é maior que cada um deles individualmente.

Nossas Lojas precisam de irmãos de verdade, aqueles que tem orgulho de pertencer a essa instituição e estão dispostos a sacrifícios pessoais em benefício da mesma. Ele deve lembrar-se sempre que ele não escolheu a Ordem, mas foi por ela escolhido por reunir as condições necessárias para tal. No entanto ele escolheu ficar e deve ser fiel aos seus juramentos.

Precisamos, portanto de Irmãos com três pontinhos de verdade.

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