Pelicanos de Balandrau.

"Que cada um se esforce individualmente e de acordo com as possibilidades de sua inteligência; mas que cuide de não censurar os demais, seja porque ele não os entende ou porque eles não o entendem, já que sempre ocorre um dos casos, e freqüentemente ambos de uma só vez. Toda opinião sincera merece por tal razão ser respeitada, ainda que possa haver discordância em seus méritos. A verdadeira liberdade de pensamento mede-se pela liberdade que cada indivíduo sabe conceder aos demais" PEDRO DONIDA

sábado, 8 de agosto de 2009

A Religião Natural.



Segundo Cícero, o termo religião vem do Latim re-ligare. Em sua acepção etimológica, é religião tudo o que religa o ser humano com a divindade. As definições de religião são muitas; cada filósofo propõe a sua. Em geral, a religião pode ser definida como sendo o conjunto de deveres do homem para com Deus. Ela se divide em natural e sobrenatural. A primeira determina os deveres da criatura para com o seu Criador, com o auxílio da razão. A segunda inspira-se nas luzes da fé e da revelação. Nosso propósito é tratar somente da religião natural.

O conjunto dos atos pelos quais cumprimos os nossos deveres para com Deus constitui o culto. Sendo o homem composto de alma e de corpo, destinado por natureza a viver em sociedade, conclui-se que o culto a Deus deve ser interno e externo, conforme sejam os seus atos religiosos puramente espirituais, com sua manifestação exterior, ou sejam cumpridos em nome da sociedade.

O CULTO INTERNO
O ato religioso por excelência, por ser a expressão das relações da alma com Deus, é a oração, na qual se resume todo o culto. A oração pode ser definida como a elevação da alma para Deus a fim de O adorar, render-Lhe graças e solicitar o Seu perdão e a Sua assistência.

Os deístas admitem a necessidade da oração que adora, agradece e se arrepende, mas excluem totalmente a oração que pede, alegando ser ela inútil e até injuriosa a Deus. Deus, diz Kant, é onisciente; conhece as nossas necessidades melhor do que nós mesmos. É inútil expor-Lhas por meio da oração. Deus é infinitamente bom, e infinitamente inclinado a auxiliar-nos e socorrer-nos. Assim, é supérfluo importuná-Lo com a oração. Segundo J.J. Rousseau, os decretos de Deus são imutáveis. Por isso seria presunção pretender modificá-los (Maktub – está escrito - é a expressão árabe para o determinismo).

Ora, Deus conhece sem dúvida o que nos falta. Não é para O informar que oramos. A oração é, antes de tudo, a confissão da nossa impotência e da necessidade que temos de Deus. Em si mesma, esta confissão é meritória, e por isso Deus constituiu-a a condição e o meio para nos conceder os seus favores. Dizem os deístas que Deus é infinitamente bom e não espera pelos nossos merecimentos para nos cumular de Seus dons.

É fora de dúvida que Deus tudo pode fazer por si mesmo; mas também não é menos verdade que exige a nossa participação pessoal. Não é outra a razão pela qual Ele nos dotou de inteligência, vontade e liberdade, através da quais podemos obter o merecimento. Pretender que Deus tudo fará por si mesmo equivale a negar a causalidade do ser humano. Dizer que é inútil a oração que pede alguma coisa, baseado na imutabilidade dos decretos divinos é pretender provar, não só a inutilidade da oração, mas ainda de toda a intervenção humana, levando-nos assim ao fatalismo absoluto.

Sem dúvida, os decretos de Deus são eternos e imutáveis; sabemos também que prevêem, e que abarcam tudo na existência do universo. Mas, quando uma pessoa dirige a Deus uma prece digna de ser ouvida, não devemos supor que esta oração só agora chega ao conhecimento de Deus. Ele ouviu já esta oração desde toda a eternidade; e se este Pai misericordioso a julgou digna de ser ouvida, o universo foi organizado em favor dela, de tal maneira que o seu cumprimento não foi mais do que uma seqüência do curso natural dos acontecimentos.

O CULTO EXTERNO
Não basta apenas o culto interno a Deus, por meio dos atos íntimos das faculdades da nossa alma. É necessário também exteriorizar estes sentimentos por palavras e por atitudes. A estas manifestações chamamos de culto externo.

Ainda que menos importante do que o culto interno, o culto externo não é menos obrigatório, por vários motivos, dos quais destacamos três:

- O corpo, por ser parte essencial do ser humano, tem também o dever de tributar a sua homenagem a Deus.
- A influência do moral sobre o físico é uma lei da natureza; por isso todos os atos íntimos se refletem exteriormente e se manifestam através de alguma modificação em nosso organismo.
- Esta influência – do moral sobre o físico – prova que as ações externas favorecem e desenvolvem os sentimentos internos. Daí se conclui que o culto externo é um dever, por ser uma conseqüência natural e uma condição necessária ao culto interno.

O CULTO PÚBLICO
É o culto que a sociedade tributa a Deus por intermédio dos seus representantes (da sociedade e não de Deus, que não os tem). Este culto é também obrigatório, por várias razões:

- Visto ser o homem essencialmente sociável, deve, como tal, prestar homenagem a Deus, e perante Ele proclamar a sua absoluta dependência.
- Deus é o Criador e a Providência das sociedades humanas; por isso tem direito a que as sociedades o invoquem e glorifiquem.

A religião constitui o mais sólido fundamento dos Estados, é a grande inspiradora das mais nobres virtudes, principalmente da justiça e da caridade, sem as quais não pode haver uma sociedade estável e duradoura. O profeta Maomé dizia que os homens maus eram os que não praticavam a caridade nem o culto a Allah. A sabedoria árabe nos deu este pensamento: a caridade sem a religião vale mais para a ordem do universo do que a tirania de um príncipe devoto.

O culto público é a garantia do culto externo, como este também é a garantia do culto interno. Pelo fato de se unirem para honrar a Deus, isto é, orar, os homens mutuamente se incitam a praticar a religião, e por isso ficam ao abrigo das extravagâncias e das superstições facilmente originadas do culto puramente individual. A razão estabelece a necessidade do culto individual e social, embora deixe em aberto o modo como este culto deva ser prestado.

MAÇONARIA – CULTO E RELIGIÃO
Albert Mackey, o compilador dos 25 Landmarks obedecidos na Maçonaria brasileira, assim se expressa em sua Encyclopaedia:
“A Maçonaria é uma instituição eminentemente religiosa, e deve unicamente ao elemento religioso que ela contém a sua origem e a perpetuidade de sua existência que, sem o elemento religioso, não mereceria ser cultivada por um homem sábio e bom”.

Ao contrário do que pensamos sobre os Landmarks de Mackey, concordamos totalmente com o seu pensamento sobre a religião, e afirmamos também que a Maçonaria é uma Religião. Quando falamos de Egrégora, falamos da comunhão dos sentimentos de elevação espiritual para Deus. Quando falamos de Cadeia de União, falamos também da troca de energias resultantes da comunhão dos mesmos ideais e da elevação espiritual em busca da divindade.

Os trabalhos da maçonaria regular não são iniciados nem concluídos sem a invocação ao Ser Supremo, e sem a abertura e o fechamento ritualístico do Livro da Lei, sobre o qual prestamos nossos juramentos. Tudo isto é um culto natural e público a Deus. Por isso, a Maçonaria é sumamente religiosa, respeitando o culto interno de cada um dos seus membros, qualquer que seja a religião por ele individualmente praticada. Em sua constante busca da Verdade, a Maçonaria pratica a Religião Natural, a que, à luz da razão, estabelece o conjunto dos Deveres para com Deus, sobre os quais somos questionados já na Prova da Terra da nossa Iniciação.

Dizia nosso Irmão Rui Barbosa em sua Oração aos Moços: “Oração e trabalho são os recursos mais poderosos na criação moral do homem. A oração é o íntimo sublimar-se d’alma, pelo contato com Deus. O trabalho é o inteirar, o desenvolver, o apurar das energias do corpo e do espírito, mediante a ação contínua de cada um sobre si mesmo e sobre o mundo onde labutamos. O indivíduo que trabalha acerca-se do autor de todas as coisas. Quem quer, pois, que trabalhe, está em oração ao Senhor. Oração pelos atos, que emparelha com a oração pelo culto”.

Oremos pois, meus Irmãos, pelo trabalho e pelo culto maçônico. A oração nos eleva acima e além do corpo físico, prisão temporária e perecível de nossa alma, e nos aproxima do nosso Criador, Deus, o Supremo Arquiteto do Universo.


Bibliografia
Jean Jacques Rousseau - Confissões
Emmanuel Kant – Crítica da Razão Pura
Rui Barbosa – Oração aos Moços
Mansour Challita – As mais Belas Páginas da Literatura Árabe
Encyclopaedia Británica – Volume nº 7
Nicola Aslan – Grande Diccionario de Maçonaria e Simbologia


ANTÓNIO ROCHA FADISTA
M.'.I.'., Loja Cayrú 762 GOERJ / GOB - Brasil

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